quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Guest post de Josi Short: Escolhas, simplicidade e equilíbrio


ESCOLHAS, SIMPLICIDADE E EQUILÍBRIO


Um pouquinho de lazanha, um bocadinho de feijoada, arroz e macarrão.  Uma colheradinha de farofa, pois brasileiro nenhum resiste.  Mais um tantinho de purê de batata e umas folhinhas de alface para decorar.  Para amenizar a consciência, uma lasquinha de peito de frango grelhado e um tiquinho de camarão ao molho de ervas.  Com o mega prato na bandeja, a senhorinha elegante pediu uma Coca gelada, seguiu impávida e feliz da vida em busca de uma mesa.
Ficção?  Que nada!  Verdade verdadeira.  Presenciei, horrorizada, a cena dantesca num restaurante self-service, na chic Aldeota dessa Fortaleza calorenta e caótica.
Escolhas, escolhas...  Difícil tarefa para quem está com fome e a oferta é generosa e variada.  Observadora da paisagem humana, eu me aflijo ou me deleito com o comportamento tresloucado dos famintos, especialmente em restaurantes do tipo self-service.  Em nossa cidade há espaços gourmet deliciosos, bem decorados, profusão de pratos para todos – onívoros e vegetarianos também.  Sempre cheios, caros e lotados de gente, com ou sem pressa, a fazer ... escolhas.  Poucos são os que conseguem seguir a razão, buscar a simplicidade e o equilíbrio. Parece até que o cérebro, diante de tantas opções, fica obtuso.   
Percebo, também, que muitos vegetarianos ainda não se conscientizaram da necessidade de criar combinações e fazer escolhas de pratos bem equilibrados.  Já vi pratos gigantescos e combinações grotescas.
A decisão de se adotar o vegetarianismo vai além de modismo ou de uma alimentação isenta de carne.  Ser vegetariano é um caminho de vida, um estilo de se viver que implica em escolhas conscientes e mudanças profundas.  Mas esse não é o tema do guest post.  Meu objetivo é contribuir para que os leitores do ‘Queijo não Sangra’ sejam ainda mais conscientes em suas escolhas e nas combinações alimentares a fim de se beneficiarem com uma dieta equilibrada e saudável.  Gostaria de enfatizar que o texto a seguir se baseia em leituras sobre o tema, aconselhamento de minha médica fito-terapeuta e o viver vegetariano há quatro anos.  Para quem deseja mudar de dieta ou quem já segue o vegetarianismo, sugiro que se busque orientação, informação, aconselhamento médico. 
1.    Uma alimentação equilibrada é essencial todos os dias para manter o equilíbrio das funções orgânicas. Precisamos de proteínas, carboidratos, sais minerais, vitaminas e lipídios.  Traduzindo, para se formar um prato equilibrado, necessitamos no mínimo, de um dos cereais, um dos feijões, uma das sementes, um dos legumes, uma das raízes e folhas verdes. 
Os alimentos vegetais são divididos em sete grupos, de acordo com suas características, propriedades e valores nutricionais:
a)    CEREAIS: arroz, aveia, trigo, milho, cevada, quinua, centeio, ...
b)    LEGUMES: abobrinha, abóbora, brócolis, berinjela, chuchu,  vagem, couve-flor, pepino, ...
c)    LEGUMINOSAS (feijões): preto, fradinho, lentilha, ervilha, soja, grão-de-bico, ...
d)    RAÍZES: batata-doce, beterraba, cenoura, cará, inhame, nabo, macaxeira, rabanete, ...
e)    SEMENTES E OLEAGINOSAS; castanhas, avelã, nozes, gergelim, girassol, linhaça, amêndoas, abacate, coco, ...
f)     VEGETAIS (todas as folhas verdes comestíveis): acelga, alface, rúcula, agrião, repolho, espinafre, ...
g)    FRUTAS.

2.    Há alimentos que não combinam.  Quando a minha médica disse que meus problemas de saúde residiam, principalmente, na combinação não favorável dos alimentos, a ‘ficha caiu’.  Absolutamente verdade!  Inicialmente, deve-se evitar uma grande variedade de alimentos na mesma refeição.  Nosso fígado agradece!  Frutas e leguminosas (feijões) não se dão bem.  Frutas ácidas + leite ou frutas ácidas + frutas doces são combinações não favoráveis.  Frutas e hortaliças causam fermentação.

3.    Há combinações harmônicas dos alimentos.  Por exemplo: cereais + legumes + verduras e oleaginosos. Verduras + legumes + oleaginosos (sementes).  Proteínas + verduras + hortaliças e cereais.  Frutas ácidas com frutas ácidas; frutas doces com frutas doces. 

4.    É importante verificar a combinação das frutas para evitar a fermentação e a dificuldade digestiva. Aprendi com a minha médica que melancia e melão não combinam entre si, nem com outra fruta ou alimento.  Frutas doces combinam com frutas semi-ácidas e frutas doces entre si.  Frutas ácidas combinam somente com frutas ácidas.
·     Frutas ácidas: abacaxi,, laranja, limão, tangerina, acerola, morango, maracujá. 
·        Frutas semi-ácidas: ameixa, goiaba, maçã, pêra, uva, manga.
·        Frutas doces: mamão, banana, laranja lima.

5.    Reduza ou evite a quantidade de gordura saturada na alimentação.  Prefira assar ou cozinhar os alimentos no vapor. Frituras devem ser evitadas. 

6.    Adote produtos integrais e aumente a ingestão de fibras.

7.    Ingira alimentos crus diariamente pois os mesmos são alimentos vivos que geram vitalidade, limpam e renovam o sangue.

8.    Diminua o consumo de açúcar e doces em geral.  Use melado ou açúcar mascavo e tente abolir o açúcar branco que é carregado de produtos químicos. 
Para finalizar, é sempre bom lembrar que o alimento é uma dádiva.  Ele deve ser preparado e ingerido com respeito, tranqüilidade e alegria. As diversas texturas, cores e sabores combinados harmonicamente, geram o equilíbrio do corpo e da mente.  Sinta prazer ao comer.  Bom apetite!
PS.: Agradeço aos ensinamentos da Dra. Fátima Uchôa e da autora Maria Laura Garcia Packer, cujo livro ‘Vegetarianismo: sustentando a vida’, foi e é incentivo e inspiração.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Férias



Não reparem a falta de posts essa semana. A blogueira que vos fala está de férias nos cafundós da Paraíba :)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Tem alguma coisa sem carne?" ou onde comer fora de casa

Às compras!


A: Tem alguma coisa sem carne ?
B: Temos sim, o sanduíche misto.
A: Mas tem presunto no sanduíche misto. Eu quero algo completamente sem carne.
B: Mas presunto não é carne. É presunto de peru.
A: E peru é uma folha, minha senhora?



Aproveitando o tempinho que o guest post da Yvanna me deu (obrigada pelo texto, Yvanna!), andei fazendo algumas pesquisas para um post o qual quero desenvolver há um certo tempo. Pensei em fazer uma espécie de guia do que comer e onde comer quando é necessário alimentar-se fora de casa. No post anterior, falei sobre minha falta de vontade de comer fora de casa, mas às vezes é necessário. Então, para você que está, como eu, começando nessa vida de vegetariana ou para você que acha que ser vegetariano é passar fome, aqui vão algumas dicas e curiosidades no mínimo interessantes (e às vezes até indignantes!).

Embora não more mais por lá, é no Benfica que minha vida acaba funcionando. E em um bairro de universitários, era de se imaginar que um vegetariano tivesse uma vida um pouco mais feliz, mas não é verdade. Ainda há um tantão de falta de informação por parte das pessoas que vendem alimentos. Parte dessa falta de informação, na minha opinião, é culpa dos próprios vegetarianos. Com vergonha, medo ou até de saco cheio das piadinhas que sempre surgem quando alguém diz ser vegetariano, raramente o vegetariano pede um alimento específico para sua dieta. A pergunta é sempre: "tem algo só de queijo?" ou "isso aqui tem presunto?" Com perguntas assim, o comerciante jamais vai achar que existe a demanda que justifique a produção de alimentos vegetarianos....e assim, vamos todos ficar azuis de comer salgados e sanduíches de queijo. Longe de querer ser chata, eu venho adquirindo uma outra postura. Não é vergonhoso ser vegetariano e se as pessoas não vão entender quando eu perguntar "há alguma refeição vegetariana?" e eu vou soar esnobe, não tem problema: tenho 25 anos, sou professora e me sobra paciência para explicar para algum desavisado o que um vegetariano come ou não. Nem que eu produza folhetos explicativos sobre o vegetarianismo e distribua todas as vezes em que eu for comer fora. Talvez eu ainda tenha essa paciência por estar no comecinho, mas espero conseguir manter essa postura.Vem dando certo até então. Vejamos o caso do Café Vitrola.

Essa semana fui ao lindinho Café Vitrola, que fica sobre a Livraria Lua Nova, vizinho ao Shopping Benfica e utiliza o cardápio dos cafés Santa Clara espalhados pela cidade. Há pouquíssimas opções sem carne, mas o nome "Empada de Palmito" me fez salivar de emoção. Quando a empada (linda, por sinal) veio, foi o Val que percebeu a presença no mínimo estranha de...FRANGO? Isso mesmo, frango. Prontamente as empadas foram levadas embora e pude substituir o pedido pois havia frango não informado no cardápio e como vegetarianos, não comeríamos. O garçom pediu desculpas e informou que o fornecedor das empadas havia mudado e que eles iam reclamar ao mesmo. A única outra coisa sem carne era um quiche de ricota com espinafre e foi assim que mascamos uma espécie de plástico de gosto bem desagradável em substituição a linda mas fingida empada. A experiência não foi boa, mas em algum dias voltei ao Café Vitrola e tão logo cheguei, fui informada que a empada de palmito ainda continha frango, mas que eles estavam tomando providências e gentilmente a garçonete me mostrou outras opções no cardápio, além de adaptações possíveis. Eu sequer disse nada ao chegar lá e a informação me foi dada assim, educadamente, o que me fez, mesmo sem fome, devorar o Supremo, um sanduíche que contém presunto mas que foi substituído por muito, muito queijo. Saí satisfeita e ela também - ela sabe que ganhou uma cliente fiel e que há um público vegetariano que frequenta o café. Se eu tivesse catado o frango da empada ou dado a empada para minha mãe comer, eu nunca teria impactado positivamente daquele local. Há quem vá dizer:"ótimo, você ficou como a chata que não come carne". Mas eu prefiro isso a me surpreender com um pedaço de carne em uma refeição que não deveria contê-la.

Mudança parecida aconteceu nas lanchonetes do Centro de Humanidades da UECE, o velho CH. Duas das cantinas, a do Frank e a da tia da ponta direita (esqueci o nome dela D:), já comercializam (em uma frequência meio torta) salgados com soja e com ricota. Isso porque apareceu quem pedisse. O restaurante universitário da UFC possui sempre uma opção vegetariana e acredite, muitos onívoros optam por ela. No restaurante universitário da UECE, ainda há uma luta pela opção vegetariana. Não sei em que pé a discussão está já que a comunidade do orkut destinada à divulgação anda bem desatualizada. Mas é questão de tempo.

A coisa vem mudando, mas ainda há muitas armadilhas. Se o almoço se der no Shopping Benfica, as opções aumentam em número, mas não em qualidade. O Kalzone comercializa cinco kalzones vegetarianos: o de brócolis, o Jeri (com ricota e espinafre), o Marguerita, o Quatro Queijos e o Palmito. Todos deliciosos e alguns deles com massa integral. O McDonalds no Brasil ensaiou um sanduíche chamado Veggie Crispy, mas rapidamente foi descoberto que o sanduíche continha frango em seu molho (veja neste artigo) e foi processado por grupos vegetarianos por propaganda enganosa. O lanchonete Real Sucos possui um sanduíche de ricota com berinjela refogada, mas, conforme o garçom me informou, não é um sanduíche pronto, é uma adaptação possível a um dos sanduíches naturais deles. Pelo Bob's você passa direto. E vai direto ao Subway. Mas o Subway merece um parágrafo à parte.

Há lugares que você pensa que entendem um vegetariano. É grande e retumbante o nome "Vegetariano" no cardápio, mas é uma decepção só. O subway Vegetariano de 15 cm custa R$ 9,50 e é pão, queijo e salada. Os mesmos pão, queijo e salada de qualquer outro sanduíche, só que sem a carne. A quantidade de queijo não muda. Tomate seco continua sendo adicional. Sequer mais salada vem no sanduíche. Daí a gente analisa o sanduíche de frango promocional, que custa R$ 5,50. Ele é a mesma coisa que o Vegetariano, só que com uma fatia de peito de frango. Um preço bem menor por um produto igual. Na época que percebemos tal absurdo, eu ainda não era vegetariana e fui com o Val até o Subway perto daqui de casa fazer o teste. E se pedíssemos o sanduíche de Frango só que sem frango? Subway lotado, atendentes fazendo sanduíche em série (cada um cuidando de uma das fases), Val faz o pedido sem o Frango. A atendente fica confusa e diz que sem o frango o sanduíche ficaria registrado como Vegetariano, mais caro. Val pede que o frango seja colocado no outro sanduíche, no caso, o meu. A atendente o faz, mas ainda confusa e com medo. A vontade dele era de  pedir o pedaço de frango em um guardanapo e jogá-lo prontamente no lixo, mas é comida. Não é porque não faz parte da sua dieta que você deve estragá-la assim. A história toda serviu para provar que é o mesmo sanduíche, só que mais caro. Como pode um sanduíche SEM um dos ingredientes mais caros ser mais mais caro que um sanduíche COM o mesmo ingrediente? Caso o Subway quissesse mesmo fazer mesmo um sanduíche vegetariano, seria com ingredientes vegetarianos como soja, palmito, milho ou ainda pelo menos mais dos ingredientes que o Vegetariano já possui. Comida vegetariana não é só sem carne: é sem a carne, mas com ingredientes que a deixe gostosa e nutritiva.

Tantos vegetais...mas tão poucas opções para vegetarianos

Ainda no Shopping, falemos dos restaurantes de comida à quilo. A coisa não é melhor por lá. Nem se você quiser vestir a camisa do estereótipo vegetariano de só comer folha, você será feliz. 70% das saladas contêm presunto, frango defumado ou bacon(?). Você come tudo com medo, já que não há garantia nenhuma de que caldos de carne ou frango tenham temperado o arroz escolhido. Há poucas opções além de comidas com batatas. E os vegetarianos que lá vão comem calados, catando ou eventualmente comendo sem querer um pedaço de presunto perdido em uma salada de maionese.

Mas nem tudo é tristeza e sofrimento para um vegetariano tentando se alimentar pelo Benfica. Fui informada que há uma marmitaria vegetariana nas proximidades da faculdade de Economia, na Avenida da Universidade. Há também o ma-ra-vi-lho-so Verde Lima, um restaurante orgânico no Bairro de Fátima com opções vegetarianas (foi lá que Val e eu comemoramos 9 meses de namoro o/ S2). Mesmo sendo caro, não deixa de ser uma opção. Lembrando: ter opção não é retirar a carne dos restaurantes, mas ter opções para quem não quer comê-la. No próprio Verde Lima há pratos com frango e peixe, mas eles são bem descritos e come quem quer.

Lanço o apelo aos vegetarianos que lerem esse post: assumam-se vegetarianos. Não tenham vergonha de parecerem militantes ou causadores de confusão por solicitarem ao comércio a produção de alimentos que se adequem ao seu estilo de vida. Você não é um monstro (no máximo um little monster:D) por não comer carne, você é um consumidor que gostaria de pagar um preço justo e de ter opções para se alimentar da forma que você escolheu. Esse não é um apelo só meu, mas mundial, como bem descreve esse manifesto do site Conduta Vegetariana.

E no resto da cidade, quais as opções que você conhece? Você já pensou sobre opções vegetarianas nos locais os quais você frequenta? 

Por hoje é só, dêem uma olhada na página de receitas ao lado direito do blog. Hoje postarei a receita maravilhosa da Lasanha de Beringela, indicada pela Yvanna mas com sérias adaptações.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Guest Post de Yvanna Guimarães: Sobre vegetarianos, agrotóxicos e alimentos orgânicos





Quando vi a iniciativa da Jamie de começar um blog sobre a experiência de adaptação ao vegetarianismo, pensei: Nossa, que interessante! Acho que eu não havia visto alguém escrever sobre isso. Acompanho desde o primeiro post, e, como já falei a ela, esses insights eu tive depois de muito tempo vegetariana.
Venho aqui, nesse guest post, falar pra vocês dos meus últimos insights. Ou vocês pensam que acaba? Sou vegetariana há quase seis anos e não parei de refletir sobre meus hábitos. Esse último estalo eu tive durante uma viagem que fiz ao Rio de Janeiro em Julho de 2010. Estava visitando um amigo mato-grossense (Luís). Ao cozinharmos o almoço, percebi os avisos no arroz, os adesivos no tomate: “orgânico”. Aí eu me questionei: ok, sou vegetariana, mas pra quê raios mais uma preocupação? Cheguei mesmo a pensar isso.


Bem, o Luís já havia me contado como empresas grandes desapropriam famílias no Norte para tomar as terras para cultivo (este, diga-se de passagem, abusivo e cheio de agrotóxicos). Nós sabemos que decepam áreas enormes da Amazônia para o plantio de soja que vai direto alimentar o gado de abate. Mas essa outra parte da história eu não sabia.
Ele me indicou um documentário: “O mundo segundo a Monsanto” (Le monde selon Monsanto, no original). Eu assisti essa semana, embora já tivesse pesquisado bastante sobre o assunto. É assustador.
A Monsanto é uma empresa que foi fundada em Saint Louis, Missouri, em 1901, por John Francis Queeny, um farmacêutico de trinta anos. Hm... Farmacêutico. Ele quis produzir herbicidas para o mundo todo, e conseguiu. Em 1920, a Monsanto já estava na Europa e outros países.

Bem, essa multinacional é bastante controversa, e o documentário trata, principalmente, sobre a influência da Monsanto nos EUA. A MON, com o aval do governo dos EUA, burlou várias leis de proteção à saúde e ao meio-ambiente com seus agrotóxicos. Poluiu rios e lençóis freáticos em Missouri. É chocante ver um senhor de idade dando um depoimento, dizendo que seu irmão morreu aos 16 anos, com câncer. Como, me digam COMO, um jovem de 16 anos morre de câncer no interior?  Contaminação dos lençóis freáticos. A Monsanto nem ao menos avisou aos moradores das intervenções nos rios. E o que o governo fez? Nada. Tudo em nome da Economia, do lucro.
A partir dos anos 70, a Monsanto começa a desenvolver biotecnologia, os famosos transgênicos. Nos EUA, ninguém foi informado sobre a procedência do alimento. Ninguém votou em nada. Por muito tempo, os transgênicos foram considerados iguais aos alimentos naturais. Como assim!?
Ok, é muita informação, mas vou colocar aqui as que mais me chocaram, além de todas as doenças que as pessoas desenvolveram com os agrotóxicos. Os trabalhadores da Monsanto desenvolveram uma doença de pele (creio que a época foi 1945) que os médicos não conheciam, muito bizarra. A Monsanto, com intuito de aumentar o seu mercado, quase empurrou goela abaixo os transgênicos no México. Para quem não sabe, o milho nasceu no México, é originário de lá. Eu não sabia, mas o milho exala um pólen. Sabem o que a Monsanto fez? Plantou milhos perto da região interiorana e só esperou até que os polens dos milhos comuns se cruzassem com os milhos transgênicos. E então acusaram os mexicanos de não pagar a patente dos transgênicos. Lindo, né?
Então, vocês pensam: e eu com isso? Isso tá tão longe da minha realidade... Aí é que vocês se enganam. Existe outra multinacional tomando conta do nordeste daqui, no nosso Brasilzinho. O nome dessa empresa é Del Monte. Ela, desde 2005, tem prejudicado os moradores de Limoeiro do Norte com seus agrotóxicos. Mais especificamente na Chapada do Apodi. São aviões despejando agrotóxicos, sem se importar com quem está lá embaixo. Sem se importar com a contaminação de lençóis freáticos. Sem se importar com a saúde dos próprios empregados. Nem eles têm coragem de comer as bananas oferecidas no almoço. Houve um ativista, morador de Limoeiro, José Maria. Ele mobilizava a população local contra a empresa, inclusive os próprios empregados. Sabe como ele acabou? Assassinado. A polícia sequer periciou o corpo dele. Nos registros, somente consta que ele morreu (JURA?)... isso é, no mínimo, assustador e revoltante.
Como já discorri muito sobre o assunto, deixo aqui alguns links para que vocês possam ler vocês mesmos, sobre o assunto:

Quando soube de tudo isso, me senti esmagada como uma formiguinha tanto pelo governo, que só se importa com Economia, quanto pelas multinacionais, que não nos dão poder de escolha sobre os nossos próprios alimentos.
Após toda essa discussão e exposição de fatos escabrosos e assustadores, pensei em alternativas. O que posso fazer aqui, Fortaleza-CE? Exponho aqui as minhas sugestões:

1.       O Portal do Orgânico (www.portaldoorganico.com.br). Funciona como uma espécie de mercadinho:  suas frutas, verduras, grãos vem da região serrana. É tudo orgânico e provém de agricultura familiar. Não é lindo? Além disso, eles também têm outros produtos, como arroz, geléia, e produtos de limpeza que não agridem o meio-ambiente. Moro sozinha. Eu já fiz compras lá três vezes, e tomei a liberdade de postar os preços de algumas coisas:
- 1kg de pimentão: R$4,89 (eu comprei 300g pra mim, que moro só, R$1,67).
- 1kg de cenoura: R$3,29 (eu comprei 180g, R$0,59)
- 1kg de milho verde (este, TENSÍSSIMO, pois praticamente só existem transgênicos): R$4 (eu comprei 300g, R$1,20)
- 1kg de chuchu: R$2,19 (comprei 572g, R$1,25)
-1 alho-poró: R$1,03
-repolho roxo: R$1,13
-couve-flor: R$0,93 (160 gramas)
-espinafre: R$1,40 o maço
-rúcula: R$1,40 o maço
-tomate: R$6 o quilo
-berinjela: R$2,99 o quilo
-soja orgânica (feijão), 500g: R$2,99
-feijão verde 500g: R$2,85
-feijão vermelho 500g: R$3,96
-cebolinha/coentro 1 maço: R$0,99
-banana: 2,29 o quilo

Acho que dá pra perceber que o preço não é abusivo como esperado. Eles recebem frutas e verduras novas todas as terças e sextas.

2.       A ADAO. Não sei bem como funciona, mas creio que você precise se afiliar e pagar uma taxa mensal apenas.
3.       Além disso, para evitar o abuso de agrotóxicos, vocês podem evitar comprar em grandes redes de supermercados e comprar em mercadinhos. Pelo menos é mais perto. Só se certifiquem que eles não vêm de Limoeiro do Norte.
4.       Para óleo, evitem usar o de soja. Com certeza é transgênico. O de milho também. O de girassol é uma segurança. É mais caro, mas é mais seguro para a sua saúde.
5.       5. Para açúcar orgânico, a média de preço do quilo é R$5. Não sei se vocês sabem, mas escravidão ainda existe (empresa pega qualquer trabalhador desempregado no interior morrendo de fome com a seca e promete abrigo, roupas e outras coisas, o resto vocês já entenderam...) e, principalmente, em engenhos.

As pessoas não dão importância aos alimentos, “pode ser qualquer um”. Saúde nunca é à curto prazo. Por isso ninguém investe na própria alimentação. Todos nós queremos resultados imediatos. Emagrecer logo. Melhorar nossa aparência logo. Ficar curado logo. Com saúde, não é assim que funciona, mesmo com toda essa indústria farmacêutica que está sempre pronta a remediar a qualquer custo. Inclusive, acho complicado às vezes conviver com meu colega de apartamento. Ele não se importa muito com os orgânicos, pelo menos não no que diz a saúde. Acha caro demais e não vê necessidade. Apenas respeita meu posicionamento (ainda bem). Não, infelizmente não conseguimos ver os venenos escondidos na comida. Mas, daqui a uns 20 anos, vamos conseguir enxergar e sentir bem direitinho as conseqüências das nossas escolhas hoje.

Link para baixar o documentário O mundo segundo a Monsanto: http://docverdade.blogspot.com/2009/03/o-mundo-segundo-monsanto-le-monde-selon.html

terça-feira, 28 de junho de 2011

Semanas 3 e 4 - Nhoque, A Cura do Planeta e 1 mês vegetariana!



Dei uma sumida básica por aqui, mas não por falta de tempo e sim por excesso. Nessas duas últimas semanas, finalmente comecei a ter tempo livre após o encerramento das turmas (que ainda sequer foram totalmente encerradas). Com tempo, dormi bastante e curti bastante e deixei mesmo o blog de lado. Mas o vegetarianismo - ou a tentativa dele - continua firme e forte...e com receitas novas.

Ok, repensemos esse firme e forte. Posso dizer que já foi mais difícil. Fiz um mês de vegetarianismo comemorando com um super nhoque à bolonhesa (troca-se a carne pela soja e voilà!), com molho de tomate produzido por mim mesma, nem um cadinho ácido, saboroso e sem conservantes. É, deu mais trabalho que abrir à tesoura a embalagem de molho pronto, mas a pressa e o imediatismo ficaram no mundo do fast food que me parece cada vez mais distante e é na cozinha, aos fins de semana, que meu paladar é feliz de verdade. Pensei muito sobre isso nessas duas últimas semanas, a falta de opção e sabor da comida em geral. Após sair do dentista na semana passada, com uma restauração recém feita, vaguei sem pressa pelo Iguatemi, procurando uma refeição sem bichinhos que me fizesse salivar de verdade. Tal foi minha surpresa quando nem mesmo as com bichinhos me fizeram pensar em cair em tentação. O cheiro da comida, que é o que mais me atrai, esvai-se em um shopping entre o cheiro artificial de ar condicionado e os perfumes dos passantes. Nem mesmo as cores são exploradas. Passei por três restaurantes self-service nos quais as saladas eram tão mirradas e óbvias que deu pra entender o porquê na fila quilométrica no Mc Donalds. Lá, pelo menos cheiro a comida tem – artificialmente alterado para sucitar uma fome exagerada, mas tem.

Fico eu com as minhas comidas, com cheiro de feijão novo cozinhando, com cheiro do alho frito que refogará o arroz novo, com o aroma doce do molho de tomate caseiro, tudo com cheiro verde e cebolinha, tudo novo, tudo fresco, tudo feito na hora, comida lentamente degustada com as janelas abertas, o cheiro invadindo a casa dos vizinhos, mesa arrumada, toalha de mesa limpa. 

Comer deve ser um prazer e devemos prestar mais atenção ao que levamos à boca, em que humor estamos quando comemos, o ambiente ao nosso redor. Eu não suporto comer com barulho, com criança correndo, com som alto. Eu sacralizo as refeições de maneira até exagerada. Vez ou outra eu me pego com raiva do fato de que  raras são as vezes às quais o pessoal lá em casa senta para almoçar, juntos, pratos arrumados na mesa. Família é família mesmo na hora das refeições, todo mundo junto, todo mundo conversando, comendo, sem pressa, dividindo mais que uma refeição, um momento juntos. Vejo cada vez menos esse hábito nas casas por onde passo, o sentar à mesa, a hora de comer. É na lei do cada um pega seu prato e prepara no fogão mesmo e vai sentar na frente da TV. Eu me considero bem prafentex mas nisso eu sou super tradicionalista. Comer tem hora e ritual. Vai ver é isso que venho reparando ao comer fora - é cada um por si e a comida vai sendo reposta. Não gosto disso e precisei virar vegetariana e consequentemente prestar atenção aos meus hábitos e rotinas alimentares para entender o que me incomodava tanto naquele entrançado de gente, primeiro na salada, depois nos acompanhamentos e depois nos vinte mil quilos de carne. Claro que isso é a realidade de um self-service. Ainda existem restaurantes à la carte que respeitam os rituais da refeição.

E por falar em restaurante, enfim fui à Cura do Planeta. Recomendo demais. A comida é gostosa, tudo temperado de forma diferente, o atendimento é maravilhoso e o ambiente...ah, o ambiente é um caso à parte. Comer lenta e confortavelmente em uma casa linda, com folhas outonais caindo de uma imensa árvore que mantêm a casa fresquinha. Comer bem, com conforto e por um preço maravilhoso: R$ 7 o prato médio e R$ 10 o prato grande. Eu fui de prato grande, claro, faminta como eu estava. E os alunos que me acompanharam, Gucci, Liz e Giovanna, adoraram. Acho que foi meu único encerramento de turma do qual saí satisfeita e nada culpada (vamos combinar que salgadinho e bolo é bom mas faz um mal sem tamanho). Foi a partir do nhoque de lá que quis fazer o meu próprio. E vamos logo, caros leitores, que o que é bom dura pouco. Ironicamente a Praça da Cura (fica quase no final da Virgílio Távora) vai acabar; no local onde ela existe vai ser construído um Shopping Center.

Vou tentar não atrasar as publicações, mas só tentar. Uma boa semana para todos!



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Semana 3 - Cariri e churrasco


Vocês já repararam a cara de felicidade das vacas e porcos em frigoríficos e propagandas de churrasco? É que é um prazer para eles morrer pelo seu apetite.

Inicio a postagem dessa semana pedindo desculpas aos meus leitores pelo atraso dessa semana. É que além de blogueira, também sou professora e final de semestre é aquela loucura: fechar notas, finalizar boletins. Mas fiquei feliz em saber que muitas pessoas perguntaram sobra a atualização dessa semana, entre elas as fofíssimas Ana Teresa e Ana Paula. Bom saber que tem gente boa acompanhando. E é por isso que esse post é dedicado ás Anas!

Durante a terceira semana de minha tentativa de vegetarianismo, cheguei até a me preocupar se teria mesmo algum assunto de interessante para postar no Queijo Não Sangra. É que a semana, até a quinta-feira, se deu tranquilamente. Dia após dia eu percebo que está sendo cada vez mais possível alcançar o vegetarianismo pleno. Por mais que durante a semana eu viva basicamente de queijo e soja, no fim de semana lavo a burra na cozinha preparando os pratos com os quais eu sonhei durante a semana. Criei o hábito de levar meu almoço para o CNA e sempre que posso, espero até chegar em casa para comer. Assim, como com qualidade e ainda economizo alguns muitos reais. Comer fora é caro e raramente satisfatório e com a falta de opções sem carne, volto a criar o hábito de esperar chegar em casa. O mais interessante é que isso vem mudando os hábitos alimentares na minha casa. Ás Terças e Quintas, quando minha mãe não trabalha durante a manhã, já acordo com um cheiro bom de feijão cozinhando e quando chego em casa à noite, há algo gostoso e sem "bichinhos", como diria Ananda Badaró. Mas a vida não é feita só de rotina. Muito menos a minha.

Quinta-feira viajei como intérprete do Fundo Cristão para Crianças para Barbalha, no Cariri. Eu já sabia que não seria fácil. A imagem mais forte que tenho de lá (além de um calor miserável e a cara do Padre Cícero em absolutamente todos os lugares) é de um rodízio de carne sem buffet em Missão Velha. Exatamente, o rodízio é de carne, e mais nada. Se você quiser arroz ou até uma farofinha para acompanhar, é por fora. É claro que ninguém pede a porção de arroz. Com esse restaurante em mente segui com muito medo de passar fome, porém foi incrivelmente tranquilo. A instituição preparou o almoço, não precisamos ir a um restaurante e tudo estava muito gostoso, especialmente um feijão verde com muito, muito queijo. Claro que tremi diante da paçoca de carne-de-sol. Penso que, se eu acabar comendo carne de novo, por alguma vontade louca, será por algo que não lembra carne, como uma paçoca. Mas sobrevivi. O melhor de tudo é que ninguém percebeu que eu não comia carne, apenas o padrinho estrangeiro e a naturalidade com a qual ele olhou para o meu prato e sem comentar nada perguntou se eu queria mais salada me fez pensar que será mais fácil ser vegetariana fora do Brasil. Ao meu ver, há uma compreensão maior. Acho que para os Brasileiros o vegetarianismo ainda é um tabu. Muita gente não sabe bem do que se trata, já conversei com pessoas que me perguntaram se eu passaria a comer apenas verdura para sempre. Muitos pensam que a dieta exclui leite e ovos. Pensando nisso, agreguei ao blog duas novas páginas: uma sobre os mitos do vegetarianismo e outra sobre a nomenclatura. Informação ainda é a melhor arma contra o preconceito. À noite, esperando o horário do ônibus de volta, jantamos no super-ultra-chique Cariri Shopping e só tive que aguentar uma garçonete de um restaurante japonês explicando que ia pedir ao chef se poderia tirar a carne do Yakisoba- e ele pode. Que bom, né? Mas desconto que é bom ou um cadinho mais de verdura no meu yakisoba nem em sonho...

Meu maior desafio, porém, ainda estava por vir. Uma amiga convidou o Val e a mim para um churrasco no Sábado à tarde. Por conhecer o Val há bastante tempo, já estava implícito que haveria "um matinho" para os vegetarianos presentes. À caminho da casa dela, não percebi a gravidade da situação na qual eu estava prestes a me envolver: um churrasco. Um churrasco é mais que um tipo de festa; é uma festa baseada em carne. O que reúne aquele grupo de seres humanos é a oferta exagerada e infindável de carne. Um churrasco é bom quando sobra carne, quando as pessoas saem empanturradas, quando há pedaços de carne esquecidos e frios nas mesas, entre latinhas de cerveja e bitucas de cigarro. E foi apenas na minha terceira semana de vegetarianismo que percebi o que um churrasco é: um culto ao estrago. Vai além de se alimentar, vai além de saciar a fome, vai além de divertir-se. A regra é esbanjar. Já no local, eu observava a naturalidade indignante com a qual o Val driblava os pedaços de carne até no chão, ao redor da mesa, agrupando baião-de-dois, vinagrete e farofa em um pratinho de festa. Ele não parecia infeliz. Ele não parecia estar sofrendo com aquele cheiro inebriante e suculento de carne na brasa. Ele não parecia sequer notar a linguiça torradinha em meio à farofa de bacon em cima da mesa. Eu quis ser como ele, mas não deu. Confesso que eu sofri pencas e foi por muito pouco que não joguei esse negócio de vegetarianismo todo para o ar. Mas pensei no blog (sério, gente...assumir nesse blog que eu comi carne seria vexatório), conversei com o Val, abstraí e tomei mais caipirinha pra tentar esquecer aquela vontade quase ancestral de me agarrar com um pedaço de picanha e não soltar nunca mais. É que, não tem jeito, bebida chama carne. A gente é acostumado a associar as duas coisas. Além disso, o vinagrete estava bem ruim (e eu odeio cebola) e tem uma hora que baião nem entra mais. Em um churrasco, olhando a carne já esturricada, não dá para pensar no animal vivo, mas foi nesse pensamento em que me agarrei e tão logo mais carne crua foi colocada na churrasqueira, foi mais fácil abstrair.

Portanto, tiro uma conclusão seríssima para minha vida. Vou evitar churrascos por um tempo. Não acredito que me expor e me torturar vai me fazer bem. E se for imprescindível minha presença no próximo churrasco, vou seguir o conselho de Josi Short e levar um prato vegetariano bem gostoso, assim nem passo fome e nem fico secando o "bichinho morto" alheio.  As aspas foram só para amenizar, mas é um cadáver, disso ninguém pode discordar.

Mais uma semana, hein? Semana que vem, as comemorações de um mês de vegetarianismo! o/

Até lá!

Ps: Musiquinha da semana: The Smiths - Meat is Murder

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Semana 2 - Das quentinhas à carne de caju

Carne de caju....uma delícia!


Há quem diga que a ignorância é uma benção. Às vezes, informar-se, ler, conhecer, investigar pode deixar a vida bem mais difícil. É mais fácil viver como nossos pais viviam, é mais fácil repetir um comportamento padrão, continuar a fazer o que todos fazem sem perguntar-se o porquê, se há outra forma, se o comodismo de ir com a maré não prejudica a ninguém. 

É bem assim com o ato de comer carne. Não é difícil parar de comer carne - o difícil é viver em sociedade com tal opção. Na sociedade da "mistura", deixar de comer carne chega a ser um insulto para muitos. É um desperdício, uma frescura, uma modinha pequeno-burguesa, coisa de gente jovem e que quer mudar o mundo, coisa de gente desnutrida, amarela, gente que vive de folha. Em duas semanas de vegetarianismo bem torto (como narrarei nos parágrafos seguintes), já tomei para mim a lição de que o vegetariano tem duas opções: ou se cala e aguenta as gozações de meio mundo de mal-informados (que até parecem que se alimentam exclusivamente de carne para defendê-la com tanto vigor e fúria) ou se informa e mune-se de resposta à altura para toda e qualquer tentativa de pormenorização de um estilo de vida chamado vegetarianismo. Eu ainda não decidi que posição escolher, mas ao escrever um blog sobre minha aventura, acho que acabo tendendo para o lado que não se cala. Eu não quero a benção da ignorância, quero minha própria iluminação através do conhecimento, quero ter consciência do que faço, como, bebo e vivo. A partir daí, com o conhecimento em mãos, vou saber que caminho seguir.

O post começou meio pesado, meio com tom de reclamação, mas a semana foi ótima. De volta à rotina após o maravilhoso final de semana em Canoa Quebrada, começo a achar padrões na minha alimentação. Como em geral quando estou fora de casa raramente vou achar fontes de proteína de origem vegetal, acabo alimentando-me exatamente da forma como todo mundo pensa que o vegetariano vive: de arroz, feijão e salada. Daí, acabo ficando com fome e venho reparando que estou beliscando mais entre as refeições. Por isso, estou consumindo pratos mais generosos. Talvez eu engorde por isso. Noiada como eu sou, já estou achando que engordei, mas é só nóia. Até porque a comida "da rua" vem se tornando cada vez menos atraente para mim. Quem almoça no trabalho, acaba se rendendo, por motivos de tempo e dinheiro, às quentinhas - e não há comidinha mais gostosa que resista ao terrível gosto de "tudo misturado e abafado" que a marmita dá aos alimentos. E essa é uma das constatações que cheguei durante essa semana: comida de marmita é ruim, a gente aguenta por ser o jeito e por muitas vezes a "mistura" ser gostosa. Em geral, o arroz  leva pouco ou nada de tempero, o feijão é obviamente reaproveitado e misturado ao feijão novo, macarrão de marmita é, em geral, espaguete ao óleo, MUITO óleo e as poucas verduras nem parecem verduras depois de um certo tempo abafado. E olhando para a salada, que é sensível ao calor e logo murcha que podemos ver o quão não fresca comida de marmita é.

Durante essa semana, passei as tardes dando aulas particulares durante o período do almoço, o que me obrigou a almoçar nos restaurantes nos quais eu ministraria as aulas. Na quinta-feira, a aula de 12:15 terminou tarde demais e acabamos almoçando na Livraria Cultura. Escolhi um sanduíche que me parecia interessante e na pressa não vi que o nome "Petit Charmant" tinha uma relação bastante íntima com o tamanho minúsculo do mesmo. Além disso, após a primeira dentada percebi que o dito cujo tinha uma linda fatia de peito de peru encharcada de requeijão e...bem, nada mais. Era isso e pão. Eu estava com muita fome e não podia rejeitar o sanduíche diante de minha aluna que já ia na metade do sanduíche que ela havia pedido (muito, muito, muito mais bonito que o meu). Resultado: na pressa, tive que comer, tentando não associar o peito de peru ao PEITO DE UM PERU. Senti-me mal durante a tarde toda, tanto por não ter comido mais nada até as 5 da tarde quanto por ter quebrado minha dieta. Mas foi o jeito. Às cinco da tarde, me joguei em 500ml de sopa de feijão com macarrão, mas o corpo não se deixou enganar: onívora ou vegetariana, se eu não como direito é dor de cabeça na certa. Chegando em casa, mal aguentei comer um cadinho do arroz com feijão verde que minha mãe tinha feito com todo amor e fui dormir com um dorflex buscando fazer efeito.

Outro desafio dessa semana foi resistir aos bolinhos de bacalhau do habbibs. Meus pais me pegaram no caminho para casa e fomos ao Habbib's jantar. Comi Fogazza de mussarela (uma delícia!) e esfirras de queijo. Mas confesso que foi duro resistir aos bolinhos de bacalhau. Quem já comeu no Habbib's sabe o cheiro de tudo feito lá fica imensamente melhor se colocado na caxinha do drive thru e você tiver que esperar chegar em casa para comer. E o cheiro dos bolinhos de bacalhau entrava como desenho animado nas minhas narinas. Eu me permiti a comer peixe de vez em quando, caso a vontade fosse grande. Mas me segurei. Após alguns minutos de tortura, percebi que não eram os bolinhos de bacalhau que eu queria e sim fritura. Se os bolinhos fossem de queijo eu também estaria enlouquecendo de vontade. Isso me fez abstrair os bolinhos e refletir sobre o papel das frituras na nossa alimentação. Elas são tentadoras, mas terríveis para o corpo. E, em geral, quando se fala em cardápio vegetariano, as opções em restaurantes são, na maioria das vezes, mais saudáveis. Associa-se muito frequentemente vegetarianismo a uma dieta saudável. Acredito que seja pelo fato de que quando você se torna vegetariano, você começa a refletir bem mais sobre o que come. Assim, as suas opções tendem a ser mais saudáveis. Leitores vegetarianos do blog, estou errada?


Às Segundas, Sextas e Fim-de-semana não é complicado ser vegetariana - nesses dias fico boa parte do tempo em casa e como adoro cozinhar e bolar receitas mirabolantes (minhas mesmo ou tiradas da internet), é, na verdade, um prazer descobrir tantos sabores, cores e aromas novos. É incrível como algo simples como tirar a carne faz com que você explore novos e velhos alimentos no máximo de suas potencialidades. Nessa sexta, fui fazer compras nas lojas de produtos naturais da Praça do Carmo. Comprei diferentes tipo de soja, mel, granola e ervilhas cruas (além de dois litros de Ades Vitamina de Banana...ow negócio gostoso!). No Sábado à noite, minha mãe entrou no clima e fez uma senhora compra de legumes e temperos. O resultado não podia ser outro: a soja à bolonhesa mais gostosa que já comi na vida (feita com proteína de soja grossa, pimentão vermelho,extrato de tomate com ervas finas e muito , muito tempero) e a tão famosa carne de caju, que meus pais faziam quando eu era criança, e que finalmente consegui fazer, com receita própria. Neste link, está a receita da carne de caju, mas ela fica bem mais gostosa se, após retirar o suco e desfiar o caju, a fibra for fervida três vezes. É que não gosto do ranço do caju e quando fervida e escorrida, a carne de caju pega mais tempero e fica muito, muito saborosa. Além disso, se após temperada, adicionarmos um pouco de creme de leite, a receita ganha ares de festa. Fiz também um arroz colorido (que leva diversos temperos) que viciou a casa inteira. Tinha gente (não vou dizer que foi meu pai...:P) torcendo o nariz para tanta verdura no arroz, mas no outro dia, não é que vejo o mesmo arroz sendo feito pela minha mãe?
 A felicidade não foi maior porque o Val está gripado e por isso mal sentiu o gosto das receitas mirabolantes. Mas foi maravilhoso saber que tenho, sim, muitas opções e que posso me alimentar com diversos alimentos, sem abrir mão de comer coisas gostosas. 

É isso aí, mais uma semana sem carne (ignorando o presunto que tive que comer :( ). Como será a próxima semana? Até lá!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Semana 1 - Parte 2 de 2 - Do nascer da vontade

Miu miu, meu gatão!

Foi no Domingo á noite que percebi que não havia, por coincidência, comido carne durante o fim de semana inteiro. A segunda passou-se tranquila - junto ao namorado praticamente o dia todo, não foi complicado não comer carne. Foi apenas na Terça-Feira de tarde que a idéia de que querer ser vegetariana tomou forma de verdade. Prestes a ir dar aula para a turma de 12:15, pensei nas opções de almoço que eu teria próximas ao meu trabalho. Financeiramente inviáveis. Apenas restaurantes mais caros priorizam opções de salada.

A verdade é que somos uma sociedade que gira em torno da "mistura". Vocês já repararam que quando se pergunta o que há para o almoço, em geral a resposta é o tipo de carne que está dando sentido ao prato? Os demais alimentos são tratados de forma completamente secundária, como se apenas a carne, e apenas ela, fosse dar a energia necessária para ser considerado um almoço. Pensando nisso, sem saber como explicar para a moça da marmitaria que eu queria arroz, feijão, macarrão e salada, sem "mistura", resolvi apelar para um Kalzone de brócolis. O resultado foi fome e dor de cabeça. Um Kalzone não é capaz de alimentar quem está acostumado a comer "comida de panela" no almoço, seja ele com carne ou sem carne. Aprendi minha lição da pior forma e mesmo comendo no meio da tarde pão com café, nada fazia a dor de cabeça ir embora. Associo também uma boa parcela da dor de cabeça ao psicológico.  Como tudo na vida, se você der importância demais, vira um problema. Tentar mudar seus hábitos alimentares da noite para o dia certamente vai modificar sua rotina, mas é necessário lembrar que a comida é apenas parte da sua vida, não é a parte mais importante, nem de longe. Até então, não havia contado para ninguém dos meus anseios vegetarianos, mas à noite não resisti e dividi com o Val. Ele me apoiou, mas não mostrou muita empolgação no telefone. Ele tem medo que seja apenas por influência dele que eu tenha tomado essa decisão.

Na quarta, fui almoçar em um restaurante hare krishna. Quer dizer, tentei. O restaurante estava fechado e eu tinha pouco tempo. Tive que almoçar em um shopping e foi um self-service caro que aplacou minha fome. E nem mesmo nele fui plenamente feliz: quase todas as saladas levavam presunto e catar a cebola das saladas já é tarefa difícil o suficiente.Preciso conhecer os lugares e as manhas dos locais frequentados pelos vegetarianos ou é já já que vou á falência! Á noite, com fome, lavei a burra no Habbib's. Comi três bolinhos de bacalhau e tomei a decisão de comer peixe no máximo uma vez por semana, caso dê vontade. Estou me tornando vegetariana por vontade própria, ninguém está me obrigando, não tenho problemas graves de saúde e nem uma religião que me imponha o vegetarianismo como necessidade. Abrirei a exceção de um dia caso eu tenha vontade. E assim o fiz, sem culpa.

Na quinta tive comidinha preparada pelo namorado, mas só pude comê-la às 4 da tarde (trabalhando loucamente tem hora que nem almoçar dá). A comida estava maravilhosa. Comer em casa, comer comida de casa faz uma diferença imensa - na rua, por mais temparadinha que a comida seja, tudo tem gosto de panela grande. Vocês entendem o conceito de panela grande? Comida de festa, comida feita em quantidade, para muitas pessoas e por muitas pessoas é tão diferente da comida preparada para duas ou quatro pessoas! Talvez seja o carinho, talvez as pequenas quantidades, não sei. A verdade é que tem uma hora que comida de restaurante dá nos nervos. Á tarde, me dei de presente uma sessão torturante de vídeos do Peta sobre como os animais sofrem para virem aos nossos pratos. Eu não precisava vê-los, até porque já havia os visto. Mas dessa vez, eles adquiriram um outro ar. Sinto como se dessa vez eu posso parar de fazer parte do grupo de pessoas que aceita calada, garfada após garfada, que seres vivos como eu e você sejam mortos para que nos alimentemos. Seres que são reproduzidos em escala, criados em ambientes terríveis e mortos sem piedade e muitas vezes com muita, muita crueldade. Nós não precisamos da carne que comemos e só por ser de um animal irracional, não significa que não é carne. Ao ver vídeos como os do Peta, penso nos meus gatos. Sempre tive gatos ao meu redor e sempre os tratei como filhos. Minha gata Maggie me massageia quando estou doente, o Miu-Miu sabe quando eu estou triste e me procura muito mais quando eu preciso de companhia. São constatações que apenas quem tem gatos ou mesmo cães em casa sabe - por mais que os animais domésticos sejam extremamente interesseiros (assim como nós também somos), há nos animais uma pureza que nos falta, eles percebem e possuem sentimentos, pensam e agem, seja com amor ou ódio. Há quem tenha galinhas de estimação, vacas, ratos. Não há diferença entre um animal de estimação e uma vaca pastando em um sítio. Pensar nisso e pensar nos meus gatos e ver os vídeos e refletir sobre eles me fez chegar à conclusão que nenhum sacrifício meu, seja de almoço ou jantar, justifica a retirada da vida de seres vivos como eu, meus gatos ou a vaca que nos é servida com rodelas de cebola refogadas todos os dias. Após essa experiência, encarei uma festa de aniversário à noite sem dramas. Festas de aniversário são terríveis testes - as coxinhas parecem cantar como sereias te seduzindo....só um vai, só uma. Raspei o frango de uma delas e fui feliz com o bolo e os amendoins presentes. Foi incrivelmente tranquilo.

Sexta, namoradiei de novo. Analisando bem, eu comi demais na casa do Val durante a semana. Mas isso foi bom, é bom ter um lugar onde não se pergunta por que você está rejeitando as almôndegas. Como a prima dele é vegana e ele vegetariano, as pessoas da casa já naturalizaram o vegetarianismo e o mercantil feito todos os meses contempla perfeitamente tudo que um vegetariano precisa. E o mais interessante - um onívoro também. Convivem na casa dele onívoros e carnívoros sem nhem nhem nhem de nenhuma das partes. É um mundo ideal, bem ideal.

Meu real teste foi durante o fim de semana. Em comemoração ao aniversário do Val, fomos à Canoa Quebrada. Praia, sol, mar.....frutos do mar. Frutos do mar! Sou louca por eles, camarão, caranguejos...Como resistir? Como vou conseguir? Simples. Ao chegarmos na cidade e buscarmos um local para almoçar, não foi difícil desviar-me dos pratos sugeridos (Buchada, Sarapatel...). E foi entre uma garfada e outra de uma comida deliciosa e um ovo frito sob o olhar desconfiado da garçonete que nos surgiu um pescador vendendo arraias recém-abatidas. Eu não vi a sacola, tentei nem ver, mas o Val viu e descreveu como uma coisa sangrenta dentro de uma sacola. Começamos a refletir sobre o quão primitivo é ter um cadáver recém-abatido sendo oferecido à venda. Se fosse queijo, seria apenas queijo, não haveria sangue. Foi daí que o nome do blog veio - queijo não sangra. Eu sangro e você sangra, assim como todos os demais animais que insistimos em comer. Após a arraia, foi tranquilo. E na noite do sábado comemos uma das melhores pizzas mussarela da minha vida. Sabe aquele queijo gratinado no ponto certo? Aquela pizza fininha com molho de tomate docinho? Pizza de propaganda, pizza dos sonhos. Comi a pizza sem nem lembrar da tentativa de ser vegetariana, ciente de que as próximas semanas não vão ser tão difíceis assim.

Semana 1, Parte 1 de 2 - Do nascer da vontade



Ser vegetariana é algo que anseio há um certo tempo. Mas era sempre difícil demais. Como deixar de comer carne, frango, linguiça, salsicha e o maior desafio - deixar de comer frutos do mar! Logo eu, louca por camarão, por uma boa peixada, comedora oficial de caranguejo todas as quintas-feiras! Sempre admirei as pessoas que conseguiam, mas me parecia algo que me privaria demais e comer é uma das coisas mais deliciosas da vida. 

Daí certos vegetarianos foram surgindo em minha rotina. A primeira dela foi a Rachel. Escavucava as coxinhas que ela comprava no Júlio, retirando todo o frango para que ela comesse apenas a massa. Acompanhei a Rachel cuspindo um pedaço de carne encontrado em um feijão no R.U. Via o sofrimento que era encontrar algo para que ela pudesse lanchar. Mas também via as coisas mudando. Algumas cantinas da faculdade começaram a fazer salgados de soja e de queijo e com o passar do tempo, já não era mais um sacrifício achar um lanche que não precisasse ser escavucado - e os lanches dela eram até mais gostosos que os meus. O tempo passou e Rachel voltou a ser onívora. Alguns anos depois, conhecí a Ananda. A Ananda é das vegetarianas engajadas. Faz parte de grupos de proteção aos animais, divulga vídeos do Peta e mantêm um álbum no orkut com pessoas famosas que falam do quão bom é ser vegetariano. Mas também é das vegetarianas tranquilas. Ela não faz cara feia diante do seu bife. Ela não te critica pelo fato de você comer carne. No entanto, é exatamente contrária a reação das pessoas diante de seu vegetarianismo. Tanto que ela até evita falar que é vegetariana para evitar as tão famosas frases sobre as emoções de uma cenoura ou as frustrações de uma beterraba ao ser arrancada do solo. Após conhecer a Ananda, me empolguei com o vegetarianismo, mas na época era casada com um onívoro que, embora tenha sido compreensivo com meu objetivo, não partilhava da mesma vontade e juntando a solidão do sonho com a pouca força de vontade, em dois meses me rendí à Carne de Sol com batatas do Cantinho Acadêmico.
Anos se passaram, me separei e comecei a namorar um vegetariano, o Val. O Val é um vegetariano bem peculiar. Ele não faz parte de nenhum movimento de proteção aos animais, sequer gosta de falar para as pessoas que é vegetariano e quando come fora, sempre pede coisas sem carne dizendo ter alergia. Além disso, não é muito adepto de saladas e nem sempre escolhe a refeição mais saudável. Ele simplesmente nunca gostou muito de carne e quando veio morar em Fortaleza, sob a influência de uma prima vegana, tornou-se, enfim, vegetariano e segue até hoje, sem noias, sem tentar evangelizar ninguém, tendo o vegetarianismo como mais uma de suas características, como gostar de tatuagens.Namorar um vegetariano sendo onívora não é complicado. Os vegetarianos comem tudo o que onívoros comem, excetuando carne, seja ela de onde venha, seja ela de que animal seja. Eu já tinha um bom conhecimento de receitas vegetarianas, já consumia proteína de soja com alguma frequência e achei no vegetarianismo dele uma desculpa para voltar a inventar receitas na cozinha e a catar na cidade restaurantes nos quais pudéssemos ir sem que ele precisasse comer apenas queijo. 
Com o passar do tempo, comecei a comer cada vez mais o que ele comia e fim de semana passado, sem planejar, não comi nada com carne. Além disso, poucos meses antes, uma lição de um livro de Inglês para uma turma de alunos do Avançado falava sobre alimentação não-convencional chamada "Going raw or going nuts?". Como professora, tive que estudar profundamente todas as formas alternativas de alimentação e fui desmistificando várias idéias bem preconceituosas que eu e muitos alunos tinham. 

Na segunda-feira, 23 de Maio, veio a idéia: e se eu tentasse, mais uma vez, ser vegetariana? 

Junto ao namorado, veio a idéia de narrar o processo. Quais os desafios reais de um onívoro? Quais as reais vantagens? 

A experiência da semana 1 será contada na parte 2 desse post. Como alimentar-se fora de casa privando-se de carne? Como não ficar com fome? Como aguentar ir para Canoa Quebrada e resistir aos camarões e peixadas tradicionais de uma cidade praiana? Será que conseguí?

Aguardem!