segunda-feira, 30 de maio de 2011

Semana 1, Parte 1 de 2 - Do nascer da vontade



Ser vegetariana é algo que anseio há um certo tempo. Mas era sempre difícil demais. Como deixar de comer carne, frango, linguiça, salsicha e o maior desafio - deixar de comer frutos do mar! Logo eu, louca por camarão, por uma boa peixada, comedora oficial de caranguejo todas as quintas-feiras! Sempre admirei as pessoas que conseguiam, mas me parecia algo que me privaria demais e comer é uma das coisas mais deliciosas da vida. 

Daí certos vegetarianos foram surgindo em minha rotina. A primeira dela foi a Rachel. Escavucava as coxinhas que ela comprava no Júlio, retirando todo o frango para que ela comesse apenas a massa. Acompanhei a Rachel cuspindo um pedaço de carne encontrado em um feijão no R.U. Via o sofrimento que era encontrar algo para que ela pudesse lanchar. Mas também via as coisas mudando. Algumas cantinas da faculdade começaram a fazer salgados de soja e de queijo e com o passar do tempo, já não era mais um sacrifício achar um lanche que não precisasse ser escavucado - e os lanches dela eram até mais gostosos que os meus. O tempo passou e Rachel voltou a ser onívora. Alguns anos depois, conhecí a Ananda. A Ananda é das vegetarianas engajadas. Faz parte de grupos de proteção aos animais, divulga vídeos do Peta e mantêm um álbum no orkut com pessoas famosas que falam do quão bom é ser vegetariano. Mas também é das vegetarianas tranquilas. Ela não faz cara feia diante do seu bife. Ela não te critica pelo fato de você comer carne. No entanto, é exatamente contrária a reação das pessoas diante de seu vegetarianismo. Tanto que ela até evita falar que é vegetariana para evitar as tão famosas frases sobre as emoções de uma cenoura ou as frustrações de uma beterraba ao ser arrancada do solo. Após conhecer a Ananda, me empolguei com o vegetarianismo, mas na época era casada com um onívoro que, embora tenha sido compreensivo com meu objetivo, não partilhava da mesma vontade e juntando a solidão do sonho com a pouca força de vontade, em dois meses me rendí à Carne de Sol com batatas do Cantinho Acadêmico.
Anos se passaram, me separei e comecei a namorar um vegetariano, o Val. O Val é um vegetariano bem peculiar. Ele não faz parte de nenhum movimento de proteção aos animais, sequer gosta de falar para as pessoas que é vegetariano e quando come fora, sempre pede coisas sem carne dizendo ter alergia. Além disso, não é muito adepto de saladas e nem sempre escolhe a refeição mais saudável. Ele simplesmente nunca gostou muito de carne e quando veio morar em Fortaleza, sob a influência de uma prima vegana, tornou-se, enfim, vegetariano e segue até hoje, sem noias, sem tentar evangelizar ninguém, tendo o vegetarianismo como mais uma de suas características, como gostar de tatuagens.Namorar um vegetariano sendo onívora não é complicado. Os vegetarianos comem tudo o que onívoros comem, excetuando carne, seja ela de onde venha, seja ela de que animal seja. Eu já tinha um bom conhecimento de receitas vegetarianas, já consumia proteína de soja com alguma frequência e achei no vegetarianismo dele uma desculpa para voltar a inventar receitas na cozinha e a catar na cidade restaurantes nos quais pudéssemos ir sem que ele precisasse comer apenas queijo. 
Com o passar do tempo, comecei a comer cada vez mais o que ele comia e fim de semana passado, sem planejar, não comi nada com carne. Além disso, poucos meses antes, uma lição de um livro de Inglês para uma turma de alunos do Avançado falava sobre alimentação não-convencional chamada "Going raw or going nuts?". Como professora, tive que estudar profundamente todas as formas alternativas de alimentação e fui desmistificando várias idéias bem preconceituosas que eu e muitos alunos tinham. 

Na segunda-feira, 23 de Maio, veio a idéia: e se eu tentasse, mais uma vez, ser vegetariana? 

Junto ao namorado, veio a idéia de narrar o processo. Quais os desafios reais de um onívoro? Quais as reais vantagens? 

A experiência da semana 1 será contada na parte 2 desse post. Como alimentar-se fora de casa privando-se de carne? Como não ficar com fome? Como aguentar ir para Canoa Quebrada e resistir aos camarões e peixadas tradicionais de uma cidade praiana? Será que conseguí?

Aguardem!

2 comentários:

  1. E você tentou fazer aquela receita de Raw food que te entreguei na aula no começo do semestre?
    Agora fiquei curiosa...

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  2. Na verdade, nem a fiz. Ainda não estou muito interessada em Raw food, mas achei interessante o fato de que muitos acreditam que cozinhar os alimentos retira suas melhores propriedades. Quem sabe não possamos, ao invés de radicalizar, incorporar os benefícios de todas as dietas na nossa própria dieta?

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