quarta-feira, 15 de junho de 2011

Semana 3 - Cariri e churrasco


Vocês já repararam a cara de felicidade das vacas e porcos em frigoríficos e propagandas de churrasco? É que é um prazer para eles morrer pelo seu apetite.

Inicio a postagem dessa semana pedindo desculpas aos meus leitores pelo atraso dessa semana. É que além de blogueira, também sou professora e final de semestre é aquela loucura: fechar notas, finalizar boletins. Mas fiquei feliz em saber que muitas pessoas perguntaram sobra a atualização dessa semana, entre elas as fofíssimas Ana Teresa e Ana Paula. Bom saber que tem gente boa acompanhando. E é por isso que esse post é dedicado ás Anas!

Durante a terceira semana de minha tentativa de vegetarianismo, cheguei até a me preocupar se teria mesmo algum assunto de interessante para postar no Queijo Não Sangra. É que a semana, até a quinta-feira, se deu tranquilamente. Dia após dia eu percebo que está sendo cada vez mais possível alcançar o vegetarianismo pleno. Por mais que durante a semana eu viva basicamente de queijo e soja, no fim de semana lavo a burra na cozinha preparando os pratos com os quais eu sonhei durante a semana. Criei o hábito de levar meu almoço para o CNA e sempre que posso, espero até chegar em casa para comer. Assim, como com qualidade e ainda economizo alguns muitos reais. Comer fora é caro e raramente satisfatório e com a falta de opções sem carne, volto a criar o hábito de esperar chegar em casa. O mais interessante é que isso vem mudando os hábitos alimentares na minha casa. Ás Terças e Quintas, quando minha mãe não trabalha durante a manhã, já acordo com um cheiro bom de feijão cozinhando e quando chego em casa à noite, há algo gostoso e sem "bichinhos", como diria Ananda Badaró. Mas a vida não é feita só de rotina. Muito menos a minha.

Quinta-feira viajei como intérprete do Fundo Cristão para Crianças para Barbalha, no Cariri. Eu já sabia que não seria fácil. A imagem mais forte que tenho de lá (além de um calor miserável e a cara do Padre Cícero em absolutamente todos os lugares) é de um rodízio de carne sem buffet em Missão Velha. Exatamente, o rodízio é de carne, e mais nada. Se você quiser arroz ou até uma farofinha para acompanhar, é por fora. É claro que ninguém pede a porção de arroz. Com esse restaurante em mente segui com muito medo de passar fome, porém foi incrivelmente tranquilo. A instituição preparou o almoço, não precisamos ir a um restaurante e tudo estava muito gostoso, especialmente um feijão verde com muito, muito queijo. Claro que tremi diante da paçoca de carne-de-sol. Penso que, se eu acabar comendo carne de novo, por alguma vontade louca, será por algo que não lembra carne, como uma paçoca. Mas sobrevivi. O melhor de tudo é que ninguém percebeu que eu não comia carne, apenas o padrinho estrangeiro e a naturalidade com a qual ele olhou para o meu prato e sem comentar nada perguntou se eu queria mais salada me fez pensar que será mais fácil ser vegetariana fora do Brasil. Ao meu ver, há uma compreensão maior. Acho que para os Brasileiros o vegetarianismo ainda é um tabu. Muita gente não sabe bem do que se trata, já conversei com pessoas que me perguntaram se eu passaria a comer apenas verdura para sempre. Muitos pensam que a dieta exclui leite e ovos. Pensando nisso, agreguei ao blog duas novas páginas: uma sobre os mitos do vegetarianismo e outra sobre a nomenclatura. Informação ainda é a melhor arma contra o preconceito. À noite, esperando o horário do ônibus de volta, jantamos no super-ultra-chique Cariri Shopping e só tive que aguentar uma garçonete de um restaurante japonês explicando que ia pedir ao chef se poderia tirar a carne do Yakisoba- e ele pode. Que bom, né? Mas desconto que é bom ou um cadinho mais de verdura no meu yakisoba nem em sonho...

Meu maior desafio, porém, ainda estava por vir. Uma amiga convidou o Val e a mim para um churrasco no Sábado à tarde. Por conhecer o Val há bastante tempo, já estava implícito que haveria "um matinho" para os vegetarianos presentes. À caminho da casa dela, não percebi a gravidade da situação na qual eu estava prestes a me envolver: um churrasco. Um churrasco é mais que um tipo de festa; é uma festa baseada em carne. O que reúne aquele grupo de seres humanos é a oferta exagerada e infindável de carne. Um churrasco é bom quando sobra carne, quando as pessoas saem empanturradas, quando há pedaços de carne esquecidos e frios nas mesas, entre latinhas de cerveja e bitucas de cigarro. E foi apenas na minha terceira semana de vegetarianismo que percebi o que um churrasco é: um culto ao estrago. Vai além de se alimentar, vai além de saciar a fome, vai além de divertir-se. A regra é esbanjar. Já no local, eu observava a naturalidade indignante com a qual o Val driblava os pedaços de carne até no chão, ao redor da mesa, agrupando baião-de-dois, vinagrete e farofa em um pratinho de festa. Ele não parecia infeliz. Ele não parecia estar sofrendo com aquele cheiro inebriante e suculento de carne na brasa. Ele não parecia sequer notar a linguiça torradinha em meio à farofa de bacon em cima da mesa. Eu quis ser como ele, mas não deu. Confesso que eu sofri pencas e foi por muito pouco que não joguei esse negócio de vegetarianismo todo para o ar. Mas pensei no blog (sério, gente...assumir nesse blog que eu comi carne seria vexatório), conversei com o Val, abstraí e tomei mais caipirinha pra tentar esquecer aquela vontade quase ancestral de me agarrar com um pedaço de picanha e não soltar nunca mais. É que, não tem jeito, bebida chama carne. A gente é acostumado a associar as duas coisas. Além disso, o vinagrete estava bem ruim (e eu odeio cebola) e tem uma hora que baião nem entra mais. Em um churrasco, olhando a carne já esturricada, não dá para pensar no animal vivo, mas foi nesse pensamento em que me agarrei e tão logo mais carne crua foi colocada na churrasqueira, foi mais fácil abstrair.

Portanto, tiro uma conclusão seríssima para minha vida. Vou evitar churrascos por um tempo. Não acredito que me expor e me torturar vai me fazer bem. E se for imprescindível minha presença no próximo churrasco, vou seguir o conselho de Josi Short e levar um prato vegetariano bem gostoso, assim nem passo fome e nem fico secando o "bichinho morto" alheio.  As aspas foram só para amenizar, mas é um cadáver, disso ninguém pode discordar.

Mais uma semana, hein? Semana que vem, as comemorações de um mês de vegetarianismo! o/

Até lá!

Ps: Musiquinha da semana: The Smiths - Meat is Murder

6 comentários:

  1. Ótima semana... E não se preocupe que toda segunda-feira passarei por aqui para saber as novidades... E bem que de vez em quando você poderia dividir essas suas superreceitas que você fala tanto... Bateu uma curiosidade...

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  2. Ai que massa! Adorei a homenagem! rs...
    Menina que sufoco esse churrasco, hein? Mas é bom mesmo seguir esse conselho da sua colega Josi, evite, pelo menos agora no inicio.
    Foi muito legal a postura desse turista estrangeiro, penso que ser vegetariano lá fora deve ser mais fácil, e outra, os estrangeiros costumam ser mais discretos do que nós brasileiros sempre atirados...rs...
    Gostei muito Jamie das páginas explicando melhor sobre os tipos de vegetarianos e sobre os mitos. Eu tinha algumas dúvidas sobre isso também, e ri mto quando li nos mitos o sobre o vegetatiano adoecer mais facilmente...kkkk, eu pensava assim antes, mas já estou mudando meus conceitos! rs...
    Já vai fazer 1 mês que vc adotou esse estilo de vida? Nossa tem que comemorar a altura!
    Bjs

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  3. Têca, estou pensando em criar uma página do blog só com as receitas, mas primeiro vou testá-las. Muitas das receitas que a gente acha na internet são bem ruins pois são só idéias, ninguém realmente testou. Em breve, hein?

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  4. É, Ana Paula...nada de churrasco por um tempo :)
    Pois é, precisamos mudar esses conceitos atrasados do Brasil. Logo aqui, lugar de frutas e verduras em abundância!
    Que ótimo que você gostou das páginas...informação nunca é demais. Muito do preconceito e das dúvidas é só falta de conhecimento...vamos dar um jeito nisso :) Obrigada pelo comentário e lembre-se...toda segunda-feira tem post novo!

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  5. Semana difícil hein? Lembro que eu passei por algo parecido com um camarão no leite de côco que fizeram na minha casa, mas eu sobrevivi e tô há uns 3 anos sem comer "animais". Força ai meu bem nessa empreitada. Bju!

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  6. Parabéns pelo esforço em nome de um bem maior.

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