segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Tem alguma coisa sem carne?" ou onde comer fora de casa

Às compras!


A: Tem alguma coisa sem carne ?
B: Temos sim, o sanduíche misto.
A: Mas tem presunto no sanduíche misto. Eu quero algo completamente sem carne.
B: Mas presunto não é carne. É presunto de peru.
A: E peru é uma folha, minha senhora?



Aproveitando o tempinho que o guest post da Yvanna me deu (obrigada pelo texto, Yvanna!), andei fazendo algumas pesquisas para um post o qual quero desenvolver há um certo tempo. Pensei em fazer uma espécie de guia do que comer e onde comer quando é necessário alimentar-se fora de casa. No post anterior, falei sobre minha falta de vontade de comer fora de casa, mas às vezes é necessário. Então, para você que está, como eu, começando nessa vida de vegetariana ou para você que acha que ser vegetariano é passar fome, aqui vão algumas dicas e curiosidades no mínimo interessantes (e às vezes até indignantes!).

Embora não more mais por lá, é no Benfica que minha vida acaba funcionando. E em um bairro de universitários, era de se imaginar que um vegetariano tivesse uma vida um pouco mais feliz, mas não é verdade. Ainda há um tantão de falta de informação por parte das pessoas que vendem alimentos. Parte dessa falta de informação, na minha opinião, é culpa dos próprios vegetarianos. Com vergonha, medo ou até de saco cheio das piadinhas que sempre surgem quando alguém diz ser vegetariano, raramente o vegetariano pede um alimento específico para sua dieta. A pergunta é sempre: "tem algo só de queijo?" ou "isso aqui tem presunto?" Com perguntas assim, o comerciante jamais vai achar que existe a demanda que justifique a produção de alimentos vegetarianos....e assim, vamos todos ficar azuis de comer salgados e sanduíches de queijo. Longe de querer ser chata, eu venho adquirindo uma outra postura. Não é vergonhoso ser vegetariano e se as pessoas não vão entender quando eu perguntar "há alguma refeição vegetariana?" e eu vou soar esnobe, não tem problema: tenho 25 anos, sou professora e me sobra paciência para explicar para algum desavisado o que um vegetariano come ou não. Nem que eu produza folhetos explicativos sobre o vegetarianismo e distribua todas as vezes em que eu for comer fora. Talvez eu ainda tenha essa paciência por estar no comecinho, mas espero conseguir manter essa postura.Vem dando certo até então. Vejamos o caso do Café Vitrola.

Essa semana fui ao lindinho Café Vitrola, que fica sobre a Livraria Lua Nova, vizinho ao Shopping Benfica e utiliza o cardápio dos cafés Santa Clara espalhados pela cidade. Há pouquíssimas opções sem carne, mas o nome "Empada de Palmito" me fez salivar de emoção. Quando a empada (linda, por sinal) veio, foi o Val que percebeu a presença no mínimo estranha de...FRANGO? Isso mesmo, frango. Prontamente as empadas foram levadas embora e pude substituir o pedido pois havia frango não informado no cardápio e como vegetarianos, não comeríamos. O garçom pediu desculpas e informou que o fornecedor das empadas havia mudado e que eles iam reclamar ao mesmo. A única outra coisa sem carne era um quiche de ricota com espinafre e foi assim que mascamos uma espécie de plástico de gosto bem desagradável em substituição a linda mas fingida empada. A experiência não foi boa, mas em algum dias voltei ao Café Vitrola e tão logo cheguei, fui informada que a empada de palmito ainda continha frango, mas que eles estavam tomando providências e gentilmente a garçonete me mostrou outras opções no cardápio, além de adaptações possíveis. Eu sequer disse nada ao chegar lá e a informação me foi dada assim, educadamente, o que me fez, mesmo sem fome, devorar o Supremo, um sanduíche que contém presunto mas que foi substituído por muito, muito queijo. Saí satisfeita e ela também - ela sabe que ganhou uma cliente fiel e que há um público vegetariano que frequenta o café. Se eu tivesse catado o frango da empada ou dado a empada para minha mãe comer, eu nunca teria impactado positivamente daquele local. Há quem vá dizer:"ótimo, você ficou como a chata que não come carne". Mas eu prefiro isso a me surpreender com um pedaço de carne em uma refeição que não deveria contê-la.

Mudança parecida aconteceu nas lanchonetes do Centro de Humanidades da UECE, o velho CH. Duas das cantinas, a do Frank e a da tia da ponta direita (esqueci o nome dela D:), já comercializam (em uma frequência meio torta) salgados com soja e com ricota. Isso porque apareceu quem pedisse. O restaurante universitário da UFC possui sempre uma opção vegetariana e acredite, muitos onívoros optam por ela. No restaurante universitário da UECE, ainda há uma luta pela opção vegetariana. Não sei em que pé a discussão está já que a comunidade do orkut destinada à divulgação anda bem desatualizada. Mas é questão de tempo.

A coisa vem mudando, mas ainda há muitas armadilhas. Se o almoço se der no Shopping Benfica, as opções aumentam em número, mas não em qualidade. O Kalzone comercializa cinco kalzones vegetarianos: o de brócolis, o Jeri (com ricota e espinafre), o Marguerita, o Quatro Queijos e o Palmito. Todos deliciosos e alguns deles com massa integral. O McDonalds no Brasil ensaiou um sanduíche chamado Veggie Crispy, mas rapidamente foi descoberto que o sanduíche continha frango em seu molho (veja neste artigo) e foi processado por grupos vegetarianos por propaganda enganosa. O lanchonete Real Sucos possui um sanduíche de ricota com berinjela refogada, mas, conforme o garçom me informou, não é um sanduíche pronto, é uma adaptação possível a um dos sanduíches naturais deles. Pelo Bob's você passa direto. E vai direto ao Subway. Mas o Subway merece um parágrafo à parte.

Há lugares que você pensa que entendem um vegetariano. É grande e retumbante o nome "Vegetariano" no cardápio, mas é uma decepção só. O subway Vegetariano de 15 cm custa R$ 9,50 e é pão, queijo e salada. Os mesmos pão, queijo e salada de qualquer outro sanduíche, só que sem a carne. A quantidade de queijo não muda. Tomate seco continua sendo adicional. Sequer mais salada vem no sanduíche. Daí a gente analisa o sanduíche de frango promocional, que custa R$ 5,50. Ele é a mesma coisa que o Vegetariano, só que com uma fatia de peito de frango. Um preço bem menor por um produto igual. Na época que percebemos tal absurdo, eu ainda não era vegetariana e fui com o Val até o Subway perto daqui de casa fazer o teste. E se pedíssemos o sanduíche de Frango só que sem frango? Subway lotado, atendentes fazendo sanduíche em série (cada um cuidando de uma das fases), Val faz o pedido sem o Frango. A atendente fica confusa e diz que sem o frango o sanduíche ficaria registrado como Vegetariano, mais caro. Val pede que o frango seja colocado no outro sanduíche, no caso, o meu. A atendente o faz, mas ainda confusa e com medo. A vontade dele era de  pedir o pedaço de frango em um guardanapo e jogá-lo prontamente no lixo, mas é comida. Não é porque não faz parte da sua dieta que você deve estragá-la assim. A história toda serviu para provar que é o mesmo sanduíche, só que mais caro. Como pode um sanduíche SEM um dos ingredientes mais caros ser mais mais caro que um sanduíche COM o mesmo ingrediente? Caso o Subway quissesse mesmo fazer mesmo um sanduíche vegetariano, seria com ingredientes vegetarianos como soja, palmito, milho ou ainda pelo menos mais dos ingredientes que o Vegetariano já possui. Comida vegetariana não é só sem carne: é sem a carne, mas com ingredientes que a deixe gostosa e nutritiva.

Tantos vegetais...mas tão poucas opções para vegetarianos

Ainda no Shopping, falemos dos restaurantes de comida à quilo. A coisa não é melhor por lá. Nem se você quiser vestir a camisa do estereótipo vegetariano de só comer folha, você será feliz. 70% das saladas contêm presunto, frango defumado ou bacon(?). Você come tudo com medo, já que não há garantia nenhuma de que caldos de carne ou frango tenham temperado o arroz escolhido. Há poucas opções além de comidas com batatas. E os vegetarianos que lá vão comem calados, catando ou eventualmente comendo sem querer um pedaço de presunto perdido em uma salada de maionese.

Mas nem tudo é tristeza e sofrimento para um vegetariano tentando se alimentar pelo Benfica. Fui informada que há uma marmitaria vegetariana nas proximidades da faculdade de Economia, na Avenida da Universidade. Há também o ma-ra-vi-lho-so Verde Lima, um restaurante orgânico no Bairro de Fátima com opções vegetarianas (foi lá que Val e eu comemoramos 9 meses de namoro o/ S2). Mesmo sendo caro, não deixa de ser uma opção. Lembrando: ter opção não é retirar a carne dos restaurantes, mas ter opções para quem não quer comê-la. No próprio Verde Lima há pratos com frango e peixe, mas eles são bem descritos e come quem quer.

Lanço o apelo aos vegetarianos que lerem esse post: assumam-se vegetarianos. Não tenham vergonha de parecerem militantes ou causadores de confusão por solicitarem ao comércio a produção de alimentos que se adequem ao seu estilo de vida. Você não é um monstro (no máximo um little monster:D) por não comer carne, você é um consumidor que gostaria de pagar um preço justo e de ter opções para se alimentar da forma que você escolheu. Esse não é um apelo só meu, mas mundial, como bem descreve esse manifesto do site Conduta Vegetariana.

E no resto da cidade, quais as opções que você conhece? Você já pensou sobre opções vegetarianas nos locais os quais você frequenta? 

Por hoje é só, dêem uma olhada na página de receitas ao lado direito do blog. Hoje postarei a receita maravilhosa da Lasanha de Beringela, indicada pela Yvanna mas com sérias adaptações.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Guest Post de Yvanna Guimarães: Sobre vegetarianos, agrotóxicos e alimentos orgânicos





Quando vi a iniciativa da Jamie de começar um blog sobre a experiência de adaptação ao vegetarianismo, pensei: Nossa, que interessante! Acho que eu não havia visto alguém escrever sobre isso. Acompanho desde o primeiro post, e, como já falei a ela, esses insights eu tive depois de muito tempo vegetariana.
Venho aqui, nesse guest post, falar pra vocês dos meus últimos insights. Ou vocês pensam que acaba? Sou vegetariana há quase seis anos e não parei de refletir sobre meus hábitos. Esse último estalo eu tive durante uma viagem que fiz ao Rio de Janeiro em Julho de 2010. Estava visitando um amigo mato-grossense (Luís). Ao cozinharmos o almoço, percebi os avisos no arroz, os adesivos no tomate: “orgânico”. Aí eu me questionei: ok, sou vegetariana, mas pra quê raios mais uma preocupação? Cheguei mesmo a pensar isso.


Bem, o Luís já havia me contado como empresas grandes desapropriam famílias no Norte para tomar as terras para cultivo (este, diga-se de passagem, abusivo e cheio de agrotóxicos). Nós sabemos que decepam áreas enormes da Amazônia para o plantio de soja que vai direto alimentar o gado de abate. Mas essa outra parte da história eu não sabia.
Ele me indicou um documentário: “O mundo segundo a Monsanto” (Le monde selon Monsanto, no original). Eu assisti essa semana, embora já tivesse pesquisado bastante sobre o assunto. É assustador.
A Monsanto é uma empresa que foi fundada em Saint Louis, Missouri, em 1901, por John Francis Queeny, um farmacêutico de trinta anos. Hm... Farmacêutico. Ele quis produzir herbicidas para o mundo todo, e conseguiu. Em 1920, a Monsanto já estava na Europa e outros países.

Bem, essa multinacional é bastante controversa, e o documentário trata, principalmente, sobre a influência da Monsanto nos EUA. A MON, com o aval do governo dos EUA, burlou várias leis de proteção à saúde e ao meio-ambiente com seus agrotóxicos. Poluiu rios e lençóis freáticos em Missouri. É chocante ver um senhor de idade dando um depoimento, dizendo que seu irmão morreu aos 16 anos, com câncer. Como, me digam COMO, um jovem de 16 anos morre de câncer no interior?  Contaminação dos lençóis freáticos. A Monsanto nem ao menos avisou aos moradores das intervenções nos rios. E o que o governo fez? Nada. Tudo em nome da Economia, do lucro.
A partir dos anos 70, a Monsanto começa a desenvolver biotecnologia, os famosos transgênicos. Nos EUA, ninguém foi informado sobre a procedência do alimento. Ninguém votou em nada. Por muito tempo, os transgênicos foram considerados iguais aos alimentos naturais. Como assim!?
Ok, é muita informação, mas vou colocar aqui as que mais me chocaram, além de todas as doenças que as pessoas desenvolveram com os agrotóxicos. Os trabalhadores da Monsanto desenvolveram uma doença de pele (creio que a época foi 1945) que os médicos não conheciam, muito bizarra. A Monsanto, com intuito de aumentar o seu mercado, quase empurrou goela abaixo os transgênicos no México. Para quem não sabe, o milho nasceu no México, é originário de lá. Eu não sabia, mas o milho exala um pólen. Sabem o que a Monsanto fez? Plantou milhos perto da região interiorana e só esperou até que os polens dos milhos comuns se cruzassem com os milhos transgênicos. E então acusaram os mexicanos de não pagar a patente dos transgênicos. Lindo, né?
Então, vocês pensam: e eu com isso? Isso tá tão longe da minha realidade... Aí é que vocês se enganam. Existe outra multinacional tomando conta do nordeste daqui, no nosso Brasilzinho. O nome dessa empresa é Del Monte. Ela, desde 2005, tem prejudicado os moradores de Limoeiro do Norte com seus agrotóxicos. Mais especificamente na Chapada do Apodi. São aviões despejando agrotóxicos, sem se importar com quem está lá embaixo. Sem se importar com a contaminação de lençóis freáticos. Sem se importar com a saúde dos próprios empregados. Nem eles têm coragem de comer as bananas oferecidas no almoço. Houve um ativista, morador de Limoeiro, José Maria. Ele mobilizava a população local contra a empresa, inclusive os próprios empregados. Sabe como ele acabou? Assassinado. A polícia sequer periciou o corpo dele. Nos registros, somente consta que ele morreu (JURA?)... isso é, no mínimo, assustador e revoltante.
Como já discorri muito sobre o assunto, deixo aqui alguns links para que vocês possam ler vocês mesmos, sobre o assunto:

Quando soube de tudo isso, me senti esmagada como uma formiguinha tanto pelo governo, que só se importa com Economia, quanto pelas multinacionais, que não nos dão poder de escolha sobre os nossos próprios alimentos.
Após toda essa discussão e exposição de fatos escabrosos e assustadores, pensei em alternativas. O que posso fazer aqui, Fortaleza-CE? Exponho aqui as minhas sugestões:

1.       O Portal do Orgânico (www.portaldoorganico.com.br). Funciona como uma espécie de mercadinho:  suas frutas, verduras, grãos vem da região serrana. É tudo orgânico e provém de agricultura familiar. Não é lindo? Além disso, eles também têm outros produtos, como arroz, geléia, e produtos de limpeza que não agridem o meio-ambiente. Moro sozinha. Eu já fiz compras lá três vezes, e tomei a liberdade de postar os preços de algumas coisas:
- 1kg de pimentão: R$4,89 (eu comprei 300g pra mim, que moro só, R$1,67).
- 1kg de cenoura: R$3,29 (eu comprei 180g, R$0,59)
- 1kg de milho verde (este, TENSÍSSIMO, pois praticamente só existem transgênicos): R$4 (eu comprei 300g, R$1,20)
- 1kg de chuchu: R$2,19 (comprei 572g, R$1,25)
-1 alho-poró: R$1,03
-repolho roxo: R$1,13
-couve-flor: R$0,93 (160 gramas)
-espinafre: R$1,40 o maço
-rúcula: R$1,40 o maço
-tomate: R$6 o quilo
-berinjela: R$2,99 o quilo
-soja orgânica (feijão), 500g: R$2,99
-feijão verde 500g: R$2,85
-feijão vermelho 500g: R$3,96
-cebolinha/coentro 1 maço: R$0,99
-banana: 2,29 o quilo

Acho que dá pra perceber que o preço não é abusivo como esperado. Eles recebem frutas e verduras novas todas as terças e sextas.

2.       A ADAO. Não sei bem como funciona, mas creio que você precise se afiliar e pagar uma taxa mensal apenas.
3.       Além disso, para evitar o abuso de agrotóxicos, vocês podem evitar comprar em grandes redes de supermercados e comprar em mercadinhos. Pelo menos é mais perto. Só se certifiquem que eles não vêm de Limoeiro do Norte.
4.       Para óleo, evitem usar o de soja. Com certeza é transgênico. O de milho também. O de girassol é uma segurança. É mais caro, mas é mais seguro para a sua saúde.
5.       5. Para açúcar orgânico, a média de preço do quilo é R$5. Não sei se vocês sabem, mas escravidão ainda existe (empresa pega qualquer trabalhador desempregado no interior morrendo de fome com a seca e promete abrigo, roupas e outras coisas, o resto vocês já entenderam...) e, principalmente, em engenhos.

As pessoas não dão importância aos alimentos, “pode ser qualquer um”. Saúde nunca é à curto prazo. Por isso ninguém investe na própria alimentação. Todos nós queremos resultados imediatos. Emagrecer logo. Melhorar nossa aparência logo. Ficar curado logo. Com saúde, não é assim que funciona, mesmo com toda essa indústria farmacêutica que está sempre pronta a remediar a qualquer custo. Inclusive, acho complicado às vezes conviver com meu colega de apartamento. Ele não se importa muito com os orgânicos, pelo menos não no que diz a saúde. Acha caro demais e não vê necessidade. Apenas respeita meu posicionamento (ainda bem). Não, infelizmente não conseguimos ver os venenos escondidos na comida. Mas, daqui a uns 20 anos, vamos conseguir enxergar e sentir bem direitinho as conseqüências das nossas escolhas hoje.

Link para baixar o documentário O mundo segundo a Monsanto: http://docverdade.blogspot.com/2009/03/o-mundo-segundo-monsanto-le-monde-selon.html