segunda-feira, 6 de junho de 2011

Semana 2 - Das quentinhas à carne de caju

Carne de caju....uma delícia!


Há quem diga que a ignorância é uma benção. Às vezes, informar-se, ler, conhecer, investigar pode deixar a vida bem mais difícil. É mais fácil viver como nossos pais viviam, é mais fácil repetir um comportamento padrão, continuar a fazer o que todos fazem sem perguntar-se o porquê, se há outra forma, se o comodismo de ir com a maré não prejudica a ninguém. 

É bem assim com o ato de comer carne. Não é difícil parar de comer carne - o difícil é viver em sociedade com tal opção. Na sociedade da "mistura", deixar de comer carne chega a ser um insulto para muitos. É um desperdício, uma frescura, uma modinha pequeno-burguesa, coisa de gente jovem e que quer mudar o mundo, coisa de gente desnutrida, amarela, gente que vive de folha. Em duas semanas de vegetarianismo bem torto (como narrarei nos parágrafos seguintes), já tomei para mim a lição de que o vegetariano tem duas opções: ou se cala e aguenta as gozações de meio mundo de mal-informados (que até parecem que se alimentam exclusivamente de carne para defendê-la com tanto vigor e fúria) ou se informa e mune-se de resposta à altura para toda e qualquer tentativa de pormenorização de um estilo de vida chamado vegetarianismo. Eu ainda não decidi que posição escolher, mas ao escrever um blog sobre minha aventura, acho que acabo tendendo para o lado que não se cala. Eu não quero a benção da ignorância, quero minha própria iluminação através do conhecimento, quero ter consciência do que faço, como, bebo e vivo. A partir daí, com o conhecimento em mãos, vou saber que caminho seguir.

O post começou meio pesado, meio com tom de reclamação, mas a semana foi ótima. De volta à rotina após o maravilhoso final de semana em Canoa Quebrada, começo a achar padrões na minha alimentação. Como em geral quando estou fora de casa raramente vou achar fontes de proteína de origem vegetal, acabo alimentando-me exatamente da forma como todo mundo pensa que o vegetariano vive: de arroz, feijão e salada. Daí, acabo ficando com fome e venho reparando que estou beliscando mais entre as refeições. Por isso, estou consumindo pratos mais generosos. Talvez eu engorde por isso. Noiada como eu sou, já estou achando que engordei, mas é só nóia. Até porque a comida "da rua" vem se tornando cada vez menos atraente para mim. Quem almoça no trabalho, acaba se rendendo, por motivos de tempo e dinheiro, às quentinhas - e não há comidinha mais gostosa que resista ao terrível gosto de "tudo misturado e abafado" que a marmita dá aos alimentos. E essa é uma das constatações que cheguei durante essa semana: comida de marmita é ruim, a gente aguenta por ser o jeito e por muitas vezes a "mistura" ser gostosa. Em geral, o arroz  leva pouco ou nada de tempero, o feijão é obviamente reaproveitado e misturado ao feijão novo, macarrão de marmita é, em geral, espaguete ao óleo, MUITO óleo e as poucas verduras nem parecem verduras depois de um certo tempo abafado. E olhando para a salada, que é sensível ao calor e logo murcha que podemos ver o quão não fresca comida de marmita é.

Durante essa semana, passei as tardes dando aulas particulares durante o período do almoço, o que me obrigou a almoçar nos restaurantes nos quais eu ministraria as aulas. Na quinta-feira, a aula de 12:15 terminou tarde demais e acabamos almoçando na Livraria Cultura. Escolhi um sanduíche que me parecia interessante e na pressa não vi que o nome "Petit Charmant" tinha uma relação bastante íntima com o tamanho minúsculo do mesmo. Além disso, após a primeira dentada percebi que o dito cujo tinha uma linda fatia de peito de peru encharcada de requeijão e...bem, nada mais. Era isso e pão. Eu estava com muita fome e não podia rejeitar o sanduíche diante de minha aluna que já ia na metade do sanduíche que ela havia pedido (muito, muito, muito mais bonito que o meu). Resultado: na pressa, tive que comer, tentando não associar o peito de peru ao PEITO DE UM PERU. Senti-me mal durante a tarde toda, tanto por não ter comido mais nada até as 5 da tarde quanto por ter quebrado minha dieta. Mas foi o jeito. Às cinco da tarde, me joguei em 500ml de sopa de feijão com macarrão, mas o corpo não se deixou enganar: onívora ou vegetariana, se eu não como direito é dor de cabeça na certa. Chegando em casa, mal aguentei comer um cadinho do arroz com feijão verde que minha mãe tinha feito com todo amor e fui dormir com um dorflex buscando fazer efeito.

Outro desafio dessa semana foi resistir aos bolinhos de bacalhau do habbibs. Meus pais me pegaram no caminho para casa e fomos ao Habbib's jantar. Comi Fogazza de mussarela (uma delícia!) e esfirras de queijo. Mas confesso que foi duro resistir aos bolinhos de bacalhau. Quem já comeu no Habbib's sabe o cheiro de tudo feito lá fica imensamente melhor se colocado na caxinha do drive thru e você tiver que esperar chegar em casa para comer. E o cheiro dos bolinhos de bacalhau entrava como desenho animado nas minhas narinas. Eu me permiti a comer peixe de vez em quando, caso a vontade fosse grande. Mas me segurei. Após alguns minutos de tortura, percebi que não eram os bolinhos de bacalhau que eu queria e sim fritura. Se os bolinhos fossem de queijo eu também estaria enlouquecendo de vontade. Isso me fez abstrair os bolinhos e refletir sobre o papel das frituras na nossa alimentação. Elas são tentadoras, mas terríveis para o corpo. E, em geral, quando se fala em cardápio vegetariano, as opções em restaurantes são, na maioria das vezes, mais saudáveis. Associa-se muito frequentemente vegetarianismo a uma dieta saudável. Acredito que seja pelo fato de que quando você se torna vegetariano, você começa a refletir bem mais sobre o que come. Assim, as suas opções tendem a ser mais saudáveis. Leitores vegetarianos do blog, estou errada?


Às Segundas, Sextas e Fim-de-semana não é complicado ser vegetariana - nesses dias fico boa parte do tempo em casa e como adoro cozinhar e bolar receitas mirabolantes (minhas mesmo ou tiradas da internet), é, na verdade, um prazer descobrir tantos sabores, cores e aromas novos. É incrível como algo simples como tirar a carne faz com que você explore novos e velhos alimentos no máximo de suas potencialidades. Nessa sexta, fui fazer compras nas lojas de produtos naturais da Praça do Carmo. Comprei diferentes tipo de soja, mel, granola e ervilhas cruas (além de dois litros de Ades Vitamina de Banana...ow negócio gostoso!). No Sábado à noite, minha mãe entrou no clima e fez uma senhora compra de legumes e temperos. O resultado não podia ser outro: a soja à bolonhesa mais gostosa que já comi na vida (feita com proteína de soja grossa, pimentão vermelho,extrato de tomate com ervas finas e muito , muito tempero) e a tão famosa carne de caju, que meus pais faziam quando eu era criança, e que finalmente consegui fazer, com receita própria. Neste link, está a receita da carne de caju, mas ela fica bem mais gostosa se, após retirar o suco e desfiar o caju, a fibra for fervida três vezes. É que não gosto do ranço do caju e quando fervida e escorrida, a carne de caju pega mais tempero e fica muito, muito saborosa. Além disso, se após temperada, adicionarmos um pouco de creme de leite, a receita ganha ares de festa. Fiz também um arroz colorido (que leva diversos temperos) que viciou a casa inteira. Tinha gente (não vou dizer que foi meu pai...:P) torcendo o nariz para tanta verdura no arroz, mas no outro dia, não é que vejo o mesmo arroz sendo feito pela minha mãe?
 A felicidade não foi maior porque o Val está gripado e por isso mal sentiu o gosto das receitas mirabolantes. Mas foi maravilhoso saber que tenho, sim, muitas opções e que posso me alimentar com diversos alimentos, sem abrir mão de comer coisas gostosas. 

É isso aí, mais uma semana sem carne (ignorando o presunto que tive que comer :( ). Como será a próxima semana? Até lá!

3 comentários:

  1. Isso que vc disse de descobrir novos temperos é verdadeiríssimo.
    Passei 4 meses vegetariana (e quero tentar de novo sim, até conseguir) e até agora gostei do que li aqui.

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  2. Legal!
    Já salvei a receita da carne de caju nos meu caderninho virtual. Irei fazê-la qualquer dia desses!! :)

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  3. Posto aqui o comentário da queridíssima Josi Short, que está tendo problemas para comentar através de sua conta google:

    Dearest Jamie,
    Que delícia voltar a ler seus escritos! Parabéns pelo novo blog e sucesso!!

    Ser vegetariana é muito simples. Apenas uma decisão e compromisso em ser mais leve e ainda mais feliz. Não é fácil, no início, mas é possível!

    O prazer de comer bem é uma conquista. Algumas dicas de quem já é vegetariana há quatro anos:
    (i) Você não precisa alardear que se tornou vegetariana, a não ser que seja convidada para um churrasco e tenha que levar a sua super-mega-deliciosa salada que todos comerão com olhares de inveja e súplica.
    (ii) Sempre é possivel encontrar opções nos restaurantes da cidade, especialmente se tentamos negociar com o garçon mudanças em um prato oferecido no cardápio.
    (iii) Há restaurantes self-service ótimos, com saladas interessantes, arroz integral, etc... Faça um 'tour' e imagine o seu prato antes de começar a amontoar legumes e verduras com arroz e feijão. Isso rima com falta de imaginação!
    (iv) Coma a cada três horas. Assim a dor de cabeça não virá. Uma maçã na bolsa é um santo remédio!
    (v) Seja criativo. A cozinha é um lugar de alquimia & meditação. Enjoy! Have fun!

    Invista em você! Seja feliz sempre!
    Um abraço grande.
    With love,

    Josi Short

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