quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sobre meus 1 ano e 9 meses de vegetarianismo e a culpa da Índia


Ser vegetariano na Índia é só felicidade.


 É de se estranhar que eu tenha vindo para a Índia, o paraíso dos vegetarianos, e não tenha contribuído com um post qualquer para o blog. Foquei minha atenção ao outro blog, o Zevendim, no qual narro minhas aventuras no sub-continente. Peço perdão aos fiéis leitores e, humildemente, peço suas visitas, comentários e discussões de volta. Eis que o Queijo Não Sangra voltará a ser atualizado. Tenho plano de migrar os posts daqui para um outro blog que inclua minhas novas paixões: Yoga e terapias naturais. Assim que descobrir uma maneira viável de realizar a migração, avisarei a todos.

Comemoro 1 ano e 9 meses de vegetarianismo, dia 28 de Maio a comemoração será de dois anos. Muita coisa do meu corpo e na minha mente mudaram desde que percebi que havia passado um fim de semana inteiro sem comer nenhum tipo de carne e resolvi continuar assim. Boa parte dessas mudanças se deu pelo fato de ter me mudado para a Índia há 1 ano e meio. Não é à toa que chamam a Índia de "o paraíso dos vegetarianos".

O vegetarianismo da Índia é motivado pelos hindus, budistas e jainistas. Embora nem todo hindu seja vegetariano, a prática da não-violência (ahimsa) e a crença na reencarnação em qualquer ser vivo freiam o consumo de carne e muitas vezes até de leite e ovos. Para a Ayurveda, a medicina milenar da Índia, o consumo de carne não é beneficial ao corpo já que sua digestão é complicada e a ayurveda centra a saúde humana no aparelho digestivo. Os medicamentos da ayurveda são todos à base de plantas e raízes e não são testados em animais (diga-se de passagem, a ayurveda utiliza os mesmos medicamentos bastante eficientes há milênios, diferente da alopatia em que toda semana há um remédio novo e mais eficiente do que o anterior). Para a Yoga (desenvolvida pelo mesmo povo que desenvolveu a ayurveda, os Vedas) o consumo de carne dificulta a meditação e aumenta a propensão à raiva, à inquietação mental, pensamentos negativos e egoísmo. Os veganos são chamados de "pure veg". O interessante é que o vegetarianismo aqui vai até além do prato - chocolate, farinha de trigo, pasta de dente, shampoos, condicionadores, perfumes, remédios e uma infinidade de itens trazem em suas embalagens um símbolo. Se verde, o produto é completamente livre de qualquer item de origem animal e também não foi testado em animais. A presença do símbolo na embalagem dos alimentos é regida por lei e respeita o consumidor. Há uma infinidade de restaurantes exclusivamente vegetarianos. Além disso, todo restaurante possue uma área reservada do cardápio para pratos vegetarianos e , algumas vezes, até uma cozinha separada para o preparo desses pratos. Os utensílios da cozinha, da panela à colher, nunca foram usados para cozinhar carne. O respeito chega a esse nível.
Veg Thali, Em sentido horário: mix veg curry, coalhada, papad, salada fria, arroz, chappati e dal.


Então todo Indiano é vegetariano? Não, mas todos são bem menos onívoros que qualquer outro povo. Receitas vegetarianas são consumidas com maior frequência - em geral, um almoço non-veg acontece duas ou três vezes na semana. Além disso, como a refeição indiana é composta de vários itens, os itens onívoros são minoria. É senso comum que a comida vegetariana é mais saudável. Mesmo os muçulmanos, ávidos consumidores de carne vermelha, entendem e fazem uso da culinária vegetariana. Aqui não tem aquela história de perguntar para um vegetariano "então,o que é que você come?". Terra de especiarias, a Índia sabe como dar sabor aos vegetais mais desgostosos e possue pratos com itens comuns à nossa culinária, mas elaborados de forma completamente diferente.
Dosa...uma panqueca maravilhosa feita de arroz e lentinhas.  Acompanhando,  coconut chutnet,  aloo masala (batata) e sambhar.

Para mim, aprender sobre a culinária indiana foi um divisor de águas. Diminuí drasticamente o consumo de soja e tornei minha alimentação muito mais saudável. Produtos integrais custam o mesmo que os processados, como a farinha de trigo branca (maida) e a farinha integral (atta). É uma culinária que valoriza alimentos frescos, da estação, integrais, preparados na hora e de valor nutricional altíssimo. Até as especiaria,s utilizadas para dar um sabor e aroma irresistíveis possuem efeitos terapeuticos. Um bom exemplo disso é o turmeric (a tradução que achei foi "açafrão-da-terra)., que tem ação anti-inflamatória e antioxidante. Isso sem falar nos óleos utilizados nas receitas. Além dos inenarráveis benefícios do consumo de óleo de côco e de gergelim, a culinária indiana usa e abusa do ghee (manteiga clarificada, receita em breve), que não modifica suas propriedades mesmo em temperaturas elevadas e nutre o sistema nervoso, fortalece o fígado e os rins, equilibra a acidez gástrica, estimula o metabolismo, lubrifica articulações e ainda é uma delícia.

O sucesso das receitas vegetarianas é culpa das especiarias.


Nos próximos posts, detalharei minhas descobertas e compartilharei receitas que podem ser feitas com itens encontrados (ou produzidos facilmente) no Brasil. Espero contribuir para a saúde dos vegetarianos brasileiros e, porque não, dos onívoros também, afinal, diminuir o consumo de produtos de origem animal é perfeitamente possível para todos.











Um comentário:

  1. Dear Jamie,

    Feliz retorno!
    Sempre é uma delícia ler seus escritos. Obrigada por compartilhar.

    Abraço carinhoso,
    Josi

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