terça-feira, 5 de julho de 2011

Guest Post de Yvanna Guimarães: Sobre vegetarianos, agrotóxicos e alimentos orgânicos





Quando vi a iniciativa da Jamie de começar um blog sobre a experiência de adaptação ao vegetarianismo, pensei: Nossa, que interessante! Acho que eu não havia visto alguém escrever sobre isso. Acompanho desde o primeiro post, e, como já falei a ela, esses insights eu tive depois de muito tempo vegetariana.
Venho aqui, nesse guest post, falar pra vocês dos meus últimos insights. Ou vocês pensam que acaba? Sou vegetariana há quase seis anos e não parei de refletir sobre meus hábitos. Esse último estalo eu tive durante uma viagem que fiz ao Rio de Janeiro em Julho de 2010. Estava visitando um amigo mato-grossense (Luís). Ao cozinharmos o almoço, percebi os avisos no arroz, os adesivos no tomate: “orgânico”. Aí eu me questionei: ok, sou vegetariana, mas pra quê raios mais uma preocupação? Cheguei mesmo a pensar isso.


Bem, o Luís já havia me contado como empresas grandes desapropriam famílias no Norte para tomar as terras para cultivo (este, diga-se de passagem, abusivo e cheio de agrotóxicos). Nós sabemos que decepam áreas enormes da Amazônia para o plantio de soja que vai direto alimentar o gado de abate. Mas essa outra parte da história eu não sabia.
Ele me indicou um documentário: “O mundo segundo a Monsanto” (Le monde selon Monsanto, no original). Eu assisti essa semana, embora já tivesse pesquisado bastante sobre o assunto. É assustador.
A Monsanto é uma empresa que foi fundada em Saint Louis, Missouri, em 1901, por John Francis Queeny, um farmacêutico de trinta anos. Hm... Farmacêutico. Ele quis produzir herbicidas para o mundo todo, e conseguiu. Em 1920, a Monsanto já estava na Europa e outros países.

Bem, essa multinacional é bastante controversa, e o documentário trata, principalmente, sobre a influência da Monsanto nos EUA. A MON, com o aval do governo dos EUA, burlou várias leis de proteção à saúde e ao meio-ambiente com seus agrotóxicos. Poluiu rios e lençóis freáticos em Missouri. É chocante ver um senhor de idade dando um depoimento, dizendo que seu irmão morreu aos 16 anos, com câncer. Como, me digam COMO, um jovem de 16 anos morre de câncer no interior?  Contaminação dos lençóis freáticos. A Monsanto nem ao menos avisou aos moradores das intervenções nos rios. E o que o governo fez? Nada. Tudo em nome da Economia, do lucro.
A partir dos anos 70, a Monsanto começa a desenvolver biotecnologia, os famosos transgênicos. Nos EUA, ninguém foi informado sobre a procedência do alimento. Ninguém votou em nada. Por muito tempo, os transgênicos foram considerados iguais aos alimentos naturais. Como assim!?
Ok, é muita informação, mas vou colocar aqui as que mais me chocaram, além de todas as doenças que as pessoas desenvolveram com os agrotóxicos. Os trabalhadores da Monsanto desenvolveram uma doença de pele (creio que a época foi 1945) que os médicos não conheciam, muito bizarra. A Monsanto, com intuito de aumentar o seu mercado, quase empurrou goela abaixo os transgênicos no México. Para quem não sabe, o milho nasceu no México, é originário de lá. Eu não sabia, mas o milho exala um pólen. Sabem o que a Monsanto fez? Plantou milhos perto da região interiorana e só esperou até que os polens dos milhos comuns se cruzassem com os milhos transgênicos. E então acusaram os mexicanos de não pagar a patente dos transgênicos. Lindo, né?
Então, vocês pensam: e eu com isso? Isso tá tão longe da minha realidade... Aí é que vocês se enganam. Existe outra multinacional tomando conta do nordeste daqui, no nosso Brasilzinho. O nome dessa empresa é Del Monte. Ela, desde 2005, tem prejudicado os moradores de Limoeiro do Norte com seus agrotóxicos. Mais especificamente na Chapada do Apodi. São aviões despejando agrotóxicos, sem se importar com quem está lá embaixo. Sem se importar com a contaminação de lençóis freáticos. Sem se importar com a saúde dos próprios empregados. Nem eles têm coragem de comer as bananas oferecidas no almoço. Houve um ativista, morador de Limoeiro, José Maria. Ele mobilizava a população local contra a empresa, inclusive os próprios empregados. Sabe como ele acabou? Assassinado. A polícia sequer periciou o corpo dele. Nos registros, somente consta que ele morreu (JURA?)... isso é, no mínimo, assustador e revoltante.
Como já discorri muito sobre o assunto, deixo aqui alguns links para que vocês possam ler vocês mesmos, sobre o assunto:

Quando soube de tudo isso, me senti esmagada como uma formiguinha tanto pelo governo, que só se importa com Economia, quanto pelas multinacionais, que não nos dão poder de escolha sobre os nossos próprios alimentos.
Após toda essa discussão e exposição de fatos escabrosos e assustadores, pensei em alternativas. O que posso fazer aqui, Fortaleza-CE? Exponho aqui as minhas sugestões:

1.       O Portal do Orgânico (www.portaldoorganico.com.br). Funciona como uma espécie de mercadinho:  suas frutas, verduras, grãos vem da região serrana. É tudo orgânico e provém de agricultura familiar. Não é lindo? Além disso, eles também têm outros produtos, como arroz, geléia, e produtos de limpeza que não agridem o meio-ambiente. Moro sozinha. Eu já fiz compras lá três vezes, e tomei a liberdade de postar os preços de algumas coisas:
- 1kg de pimentão: R$4,89 (eu comprei 300g pra mim, que moro só, R$1,67).
- 1kg de cenoura: R$3,29 (eu comprei 180g, R$0,59)
- 1kg de milho verde (este, TENSÍSSIMO, pois praticamente só existem transgênicos): R$4 (eu comprei 300g, R$1,20)
- 1kg de chuchu: R$2,19 (comprei 572g, R$1,25)
-1 alho-poró: R$1,03
-repolho roxo: R$1,13
-couve-flor: R$0,93 (160 gramas)
-espinafre: R$1,40 o maço
-rúcula: R$1,40 o maço
-tomate: R$6 o quilo
-berinjela: R$2,99 o quilo
-soja orgânica (feijão), 500g: R$2,99
-feijão verde 500g: R$2,85
-feijão vermelho 500g: R$3,96
-cebolinha/coentro 1 maço: R$0,99
-banana: 2,29 o quilo

Acho que dá pra perceber que o preço não é abusivo como esperado. Eles recebem frutas e verduras novas todas as terças e sextas.

2.       A ADAO. Não sei bem como funciona, mas creio que você precise se afiliar e pagar uma taxa mensal apenas.
3.       Além disso, para evitar o abuso de agrotóxicos, vocês podem evitar comprar em grandes redes de supermercados e comprar em mercadinhos. Pelo menos é mais perto. Só se certifiquem que eles não vêm de Limoeiro do Norte.
4.       Para óleo, evitem usar o de soja. Com certeza é transgênico. O de milho também. O de girassol é uma segurança. É mais caro, mas é mais seguro para a sua saúde.
5.       5. Para açúcar orgânico, a média de preço do quilo é R$5. Não sei se vocês sabem, mas escravidão ainda existe (empresa pega qualquer trabalhador desempregado no interior morrendo de fome com a seca e promete abrigo, roupas e outras coisas, o resto vocês já entenderam...) e, principalmente, em engenhos.

As pessoas não dão importância aos alimentos, “pode ser qualquer um”. Saúde nunca é à curto prazo. Por isso ninguém investe na própria alimentação. Todos nós queremos resultados imediatos. Emagrecer logo. Melhorar nossa aparência logo. Ficar curado logo. Com saúde, não é assim que funciona, mesmo com toda essa indústria farmacêutica que está sempre pronta a remediar a qualquer custo. Inclusive, acho complicado às vezes conviver com meu colega de apartamento. Ele não se importa muito com os orgânicos, pelo menos não no que diz a saúde. Acha caro demais e não vê necessidade. Apenas respeita meu posicionamento (ainda bem). Não, infelizmente não conseguimos ver os venenos escondidos na comida. Mas, daqui a uns 20 anos, vamos conseguir enxergar e sentir bem direitinho as conseqüências das nossas escolhas hoje.

Link para baixar o documentário O mundo segundo a Monsanto: http://docverdade.blogspot.com/2009/03/o-mundo-segundo-monsanto-le-monde-selon.html

9 comentários:

  1. Testando os comentários e agradecendo à Yvanna pelo guest post!

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  2. gostei de ser alertada quanto a isso, e saber que os preços do Portal do Organico são bem razoáveis!

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  3. Não é, Plita? Quando falamos em alimentação orgânica, a gente já pensa em coisas caras. Se você for em um Pão de Açúcar da vida é bem verdade. Mas em mercadinhos e até mesmo com aqueles senhores em com carros de mão que passam nas ruas de bairros pequenos, é possível conseguir alimentos menos nocivos. E não adianta limpar com água sanitária ou liquidozinhos especiais; os agrotóxicos estão na terra e portanto dentro dos alimentos e não apenas fora...

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  5. Sou cliente do Portal do Orgânico já faz mais de um ano. Os legumes e frutas têm cor, textura e sabor diferenciados. Em suma, são deliciosos!
    Para quem não percebeu, ainda, o Mercadinho Japonês compra seus orgânicos no Portal. Melhor ir direto a fonte!

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  6. Josi, é tão bom enfim vê-la por aqui comentando sem problemas. É uma injustiça que a leitora mais assídua tenha passado tanto tempo sem conseguir comentar. Agora eu quero comentários em dobro, hein? :) E os produtos do mercadinho japonês são ótimos....mas bem carinhos.

    Vou começar a comprar apenas lá, é pertinho do meu trabalho. Queria conhecer alguém que compra do ADAO...

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  7. Caramba quanta informação útil, sempre achei que fosse realmente caro os produtos orgânicos e não sabia que era assim de tão fácil acesso. Que ótimo!

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  8. Não é, meu bem? Vamos comprar sempre lá:)

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  9. Nossa, gostei muito dessas informações. Vou fazer uma visitinha no portal do orgânico, pois achei os preços bem razoaveis.
    Apesar de não adotar o estilo de vida vegetariano, sempre procuro comprar minhas verdurinhas com atenção, todo mundo tem que ter esse cuidado.
    Infelizmente aqui onde moro quase não encontro nada orgânico, uma pena!
    Agora fiquei sabendo esta semana por um e-mail que anda circulando na internet, que quem come frango, deve evitar comer a asa, pois alegam que é o local que onde injetam os hormônios nas aves para acelerar o crescimento, muito sério isso!

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