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Às compras! |
A: Tem alguma coisa sem carne ?
B: Temos sim, o sanduíche misto.
A: Mas tem presunto no sanduíche misto. Eu quero algo completamente sem carne.
B: Mas presunto não é carne. É presunto de peru.
A: E peru é uma folha, minha senhora?
Aproveitando o tempinho que o guest post da Yvanna me deu (obrigada pelo texto, Yvanna!), andei fazendo algumas pesquisas para um post o qual quero desenvolver há um certo tempo. Pensei em fazer uma espécie de guia do que comer e onde comer quando é necessário alimentar-se fora de casa. No post anterior, falei sobre minha falta de vontade de comer fora de casa, mas às vezes é necessário. Então, para você que está, como eu, começando nessa vida de vegetariana ou para você que acha que ser vegetariano é passar fome, aqui vão algumas dicas e curiosidades no mínimo interessantes (e às vezes até indignantes!).
Embora não more mais por lá, é no Benfica que minha vida acaba funcionando. E em um bairro de universitários, era de se imaginar que um vegetariano tivesse uma vida um pouco mais feliz, mas não é verdade. Ainda há um tantão de falta de informação por parte das pessoas que vendem alimentos. Parte dessa falta de informação, na minha opinião, é culpa dos próprios vegetarianos. Com vergonha, medo ou até de saco cheio das piadinhas que sempre surgem quando alguém diz ser vegetariano, raramente o vegetariano pede um alimento específico para sua dieta. A pergunta é sempre: "tem algo só de queijo?" ou "isso aqui tem presunto?" Com perguntas assim, o comerciante jamais vai achar que existe a demanda que justifique a produção de alimentos vegetarianos....e assim, vamos todos ficar azuis de comer salgados e sanduíches de queijo. Longe de querer ser chata, eu venho adquirindo uma outra postura. Não é vergonhoso ser vegetariano e se as pessoas não vão entender quando eu perguntar "há alguma refeição vegetariana?" e eu vou soar esnobe, não tem problema: tenho 25 anos, sou professora e me sobra paciência para explicar para algum desavisado o que um vegetariano come ou não. Nem que eu produza folhetos explicativos sobre o vegetarianismo e distribua todas as vezes em que eu for comer fora. Talvez eu ainda tenha essa paciência por estar no comecinho, mas espero conseguir manter essa postura.Vem dando certo até então. Vejamos o caso do Café Vitrola.
Essa semana fui ao lindinho Café Vitrola, que fica sobre a Livraria Lua Nova, vizinho ao Shopping Benfica e utiliza o cardápio dos cafés Santa Clara espalhados pela cidade. Há pouquíssimas opções sem carne, mas o nome "Empada de Palmito" me fez salivar de emoção. Quando a empada (linda, por sinal) veio, foi o Val que percebeu a presença no mínimo estranha de...FRANGO? Isso mesmo, frango. Prontamente as empadas foram levadas embora e pude substituir o pedido pois havia frango não informado no cardápio e como vegetarianos, não comeríamos. O garçom pediu desculpas e informou que o fornecedor das empadas havia mudado e que eles iam reclamar ao mesmo. A única outra coisa sem carne era um quiche de ricota com espinafre e foi assim que mascamos uma espécie de plástico de gosto bem desagradável em substituição a linda mas fingida empada. A experiência não foi boa, mas em algum dias voltei ao Café Vitrola e tão logo cheguei, fui informada que a empada de palmito ainda continha frango, mas que eles estavam tomando providências e gentilmente a garçonete me mostrou outras opções no cardápio, além de adaptações possíveis. Eu sequer disse nada ao chegar lá e a informação me foi dada assim, educadamente, o que me fez, mesmo sem fome, devorar o Supremo, um sanduíche que contém presunto mas que foi substituído por muito, muito queijo. Saí satisfeita e ela também - ela sabe que ganhou uma cliente fiel e que há um público vegetariano que frequenta o café. Se eu tivesse catado o frango da empada ou dado a empada para minha mãe comer, eu nunca teria impactado positivamente daquele local. Há quem vá dizer:"ótimo, você ficou como a chata que não come carne". Mas eu prefiro isso a me surpreender com um pedaço de carne em uma refeição que não deveria contê-la.
Mudança parecida aconteceu nas lanchonetes do Centro de Humanidades da UECE, o velho CH. Duas das cantinas, a do Frank e a da tia da ponta direita (esqueci o nome dela D:), já comercializam (em uma frequência meio torta) salgados com soja e com ricota. Isso porque apareceu quem pedisse. O restaurante universitário da UFC possui sempre uma opção vegetariana e acredite, muitos onívoros optam por ela. No restaurante universitário da UECE, ainda há uma luta pela opção vegetariana. Não sei em que pé a discussão está já que a comunidade do orkut destinada à divulgação anda bem desatualizada. Mas é questão de tempo.
A coisa vem mudando, mas ainda há muitas armadilhas. Se o almoço se der no Shopping Benfica, as opções aumentam em número, mas não em qualidade. O Kalzone comercializa cinco kalzones vegetarianos: o de brócolis, o Jeri (com ricota e espinafre), o Marguerita, o Quatro Queijos e o Palmito. Todos deliciosos e alguns deles com massa integral. O McDonalds no Brasil ensaiou um sanduíche chamado Veggie Crispy, mas rapidamente foi descoberto que o sanduíche continha frango em seu molho (veja neste artigo) e foi processado por grupos vegetarianos por propaganda enganosa. O lanchonete Real Sucos possui um sanduíche de ricota com berinjela refogada, mas, conforme o garçom me informou, não é um sanduíche pronto, é uma adaptação possível a um dos sanduíches naturais deles. Pelo Bob's você passa direto. E vai direto ao Subway. Mas o Subway merece um parágrafo à parte.
Há lugares que você pensa que entendem um vegetariano. É grande e retumbante o nome "Vegetariano" no cardápio, mas é uma decepção só. O subway Vegetariano de 15 cm custa R$ 9,50 e é pão, queijo e salada. Os mesmos pão, queijo e salada de qualquer outro sanduíche, só que sem a carne. A quantidade de queijo não muda. Tomate seco continua sendo adicional. Sequer mais salada vem no sanduíche. Daí a gente analisa o sanduíche de frango promocional, que custa R$ 5,50. Ele é a mesma coisa que o Vegetariano, só que com uma fatia de peito de frango. Um preço bem menor por um produto igual. Na época que percebemos tal absurdo, eu ainda não era vegetariana e fui com o Val até o Subway perto daqui de casa fazer o teste. E se pedíssemos o sanduíche de Frango só que sem frango? Subway lotado, atendentes fazendo sanduíche em série (cada um cuidando de uma das fases), Val faz o pedido sem o Frango. A atendente fica confusa e diz que sem o frango o sanduíche ficaria registrado como Vegetariano, mais caro. Val pede que o frango seja colocado no outro sanduíche, no caso, o meu. A atendente o faz, mas ainda confusa e com medo. A vontade dele era de pedir o pedaço de frango em um guardanapo e jogá-lo prontamente no lixo, mas é comida. Não é porque não faz parte da sua dieta que você deve estragá-la assim. A história toda serviu para provar que é o mesmo sanduíche, só que mais caro. Como pode um sanduíche SEM um dos ingredientes mais caros ser mais mais caro que um sanduíche COM o mesmo ingrediente? Caso o Subway quissesse mesmo fazer mesmo um sanduíche vegetariano, seria com ingredientes vegetarianos como soja, palmito, milho ou ainda pelo menos mais dos ingredientes que o Vegetariano já possui. Comida vegetariana não é só sem carne: é sem a carne, mas com ingredientes que a deixe gostosa e nutritiva.
Tantos vegetais...mas tão poucas opções para vegetarianos |
Ainda no Shopping, falemos dos restaurantes de comida à quilo. A coisa não é melhor por lá. Nem se você quiser vestir a camisa do estereótipo vegetariano de só comer folha, você será feliz. 70% das saladas contêm presunto, frango defumado ou bacon(?). Você come tudo com medo, já que não há garantia nenhuma de que caldos de carne ou frango tenham temperado o arroz escolhido. Há poucas opções além de comidas com batatas. E os vegetarianos que lá vão comem calados, catando ou eventualmente comendo sem querer um pedaço de presunto perdido em uma salada de maionese.
Mas nem tudo é tristeza e sofrimento para um vegetariano tentando se alimentar pelo Benfica. Fui informada que há uma marmitaria vegetariana nas proximidades da faculdade de Economia, na Avenida da Universidade. Há também o ma-ra-vi-lho-so Verde Lima, um restaurante orgânico no Bairro de Fátima com opções vegetarianas (foi lá que Val e eu comemoramos 9 meses de namoro o/ S2). Mesmo sendo caro, não deixa de ser uma opção. Lembrando: ter opção não é retirar a carne dos restaurantes, mas ter opções para quem não quer comê-la. No próprio Verde Lima há pratos com frango e peixe, mas eles são bem descritos e come quem quer.
Lanço o apelo aos vegetarianos que lerem esse post: assumam-se vegetarianos. Não tenham vergonha de parecerem militantes ou causadores de confusão por solicitarem ao comércio a produção de alimentos que se adequem ao seu estilo de vida. Você não é um monstro (no máximo um little monster:D) por não comer carne, você é um consumidor que gostaria de pagar um preço justo e de ter opções para se alimentar da forma que você escolheu. Esse não é um apelo só meu, mas mundial, como bem descreve esse manifesto do site Conduta Vegetariana.
E no resto da cidade, quais as opções que você conhece? Você já pensou sobre opções vegetarianas nos locais os quais você frequenta?
Por hoje é só, dêem uma olhada na página de receitas ao lado direito do blog. Hoje postarei a receita maravilhosa da Lasanha de Beringela, indicada pela Yvanna mas com sérias adaptações.